A Calculista 6
Continuação do 5
Acomodada no leito, envolta nas mantas, sua mente voltou a uma cena que presenciara mais cedo, ainda na entrada da cidade. Uma camponesa, com suas mãos calejadas de tanto trabalho, conversava com outra mulher. As palavras eram claras: "É sempre pela cevada." A simplicidade daquela frase a atingiu com uma força inesperada, o que deixou Celine a refletir sobre o que poderia significar. Sem conseguir desvendar de imediato, sua mente começou a desacelerar, e o cansaço da jornada finalmente a venceu. Lentamente, ela fechou os olhos, e o murmúrio distante da camponesa foi o último som que lhe acompanhou antes de adormecer profundamente.
Celine despertou com a luz do sol filtrando-se pelas frestas da janela, projetando padrões dourados sobre o chão de madeira rústica. O calor suave da manhã envolvia o quarto, fazendo com que a beleza do lugar parecesse um convite irresistível para explorar os segredos da cidade de Montmirail. Ela se levantou, ainda sonolenta, e começou a se preparar para o dia.
Suas roupas eram simples, mas elegantes: um vestido de linho verde claro, que caía suavemente até os tornozelos, com detalhes em bordados na barra que lembravam flores silvestres. A cintura era acentuada por um cinto de couro que ela mesma havia feito, conferindo-lhe uma silhueta delicada. Com os cabelos castanho-escuros soltos, ela os molhou com um pouco d’água fresca da bacia, ajustando alguns fios rebeldes atrás da orelha, antes de deixar o quarto e sentir a brisa fresca em seu rosto.
Ao sair da pousada, Celine foi imediatamente envolvida pelos sons da cidade despertando: risadas de crianças brincando, o tilintar de utensílios na taverna próxima e o cheiro de pão fresco saindo de uma padaria local. Contudo, seu espírito de desbravadora foi interrompido quando avistou a mesma camponesa do dia anterior, agora carregando um cesto repleto de verduras. A conversa que ouvira na taverna ressoou em sua mente, e a curiosidade a impulsionou a segui-la discretamente.
Ela acompanhou a camponesa pelas ruas de paralelepípedos, que se estreitavam conforme se afastavam do centro da cidade. A movimentação das pessoas começou a rarear, e logo Celine se viu em uma pequena aldeia chamada Verdant, situada a algumas milhas de Montmirail. A aldeia era pitoresca, com casas de pedra cobertas por telhados de palha, cercadas por campos verdes e pequenos jardins floridos. A atmosfera era tranquila, quase mágica, como se o tempo tivesse parado ali.
Assim que chegou à aldeia, Celine rapidamente se misturou aos moradores, cujas expressões eram de preocupação. Com um sorriso caloroso e palavras simples, ela se apresentou como uma viajante e logo se inteirou da situação que afligia aqueles camponeses. A conversa fluiu naturalmente, e ela soube que a disputa pela cevada não era apenas um conflito entre vizinhos, mas um embate que envolvia os nobres de Lothaire e as necessidades básicas de quem vivia da terra.
Sentindo a tensão no ar e as dificuldades que a aldeia enfrentava, Celine sussurrou para si mesma, refletindo sobre a frase da camponesa que a intrigara desde o primeiro momento: “Então era isso que a camponesa falou. É sempre pela cevada.” Com um olhar determinado, ela murmurou baixinho: “Uma disputa pelo Campo de Cevada.”
A Inquietação de Lorde Etienne
O Confronto Iminente com a Calculista de Verdant
O dia também amanheceu no castelo de Montmirail, mas a luz dourada que banhava os salões não conseguia aquecer o coração do Lorde Etienne de Clairmont. Em seu escritório, cercado por pesadas tapestries e livros antigos, ele se movia inquieto, as mãos entrelaçadas sobre a mesa. Sua preocupação com a calculista era palpável, como uma sombra que o seguia.
O que ela está fazendo? pensava. Por que não veio logo para o castelo? Como ela descobriu o que pretendíamos fazer? Essas perguntas se repetiam em sua mente, uma tormenta de incertezas. O impacto de Celine em Verdant era algo que ele não esperava, e sua mente, normalmente estratégica, estava repleta de visões de como a mulher destemida poderia intervir em seus planos.
A cada momento que passava, a angústia se transformava em determinação. Etienne sabia que a presença de Celine poderia alterar o curso dos eventos que se desenrolavam. Ele também se lembrava das conversas com os outros nobres, como a preocupação em relação às suas habilidades matemáticas e a necessidade de um plano eficaz para contê-la. Ela não pode ficar aqui, não quando pode expor nossas fraquezas.
Olhou pela janela, observando as colinas que se estendiam até onde a vista alcançava, e imaginou a aldeia de Verdant, onde Celine poderia estar fazendo a diferença que ele temia. Era necessário agir, e rapidamente. Se ela continuasse a influenciar os camponeses, poderia tornar-se uma ameaça ao seu poder e à estabilidade do reino.
Determinando-se, levantou-se abruptamente, a cadeira rangendo sob o movimento, e caminhou até a porta com passos firmes. Ele convocou um servo, sua voz grave e autoritária ecoando pelos corredores do castelo. “Preparem uma carruagem. Precisamos partir imediatamente para Verdant,” ordenou, a urgência em seu tom deixando claro que não havia espaço para hesitações.
Enquanto o servo se apressava para atender seu chamado, Lorde Etienne refletiu sobre as consequências de sua decisão. A tensão no ar era palpável, e ele sabia que o jogo que estava prestes a jogar exigiria toda a astúcia que possuía. Celine, a calculista, era mais do que apenas uma mulher; ela representava uma nova era, uma mudança que ele não estava disposto a aceitar sem lutar.
A preocupação dos aldeões era palpável, como uma névoa densa que envolvia a pequena aldeia de Verdant. O medo de perder suas terras, herdadas de gerações passadas, assombrava cada rosto enrugado pelo trabalho árduo sob o sol. Agora, essa herança estava ameaçada pela ambição de Lorde Etienne de Clairmont, cujas exigências pareciam impossíveis de atender. Os camponeses se sentiam encurralados; não tinham como pagar a parte que pertencia ao nobre, e a proposta de divisão feita por ele era um golpe fatal — uma traição ao seu modo de vida e à sua história.
Reunidos na praça central, com o murmúrio dos protestos ressoando ao redor, os aldeões trocavam olhares preocupados, sem saber o que fazer. Foi então que uma jovem camponesa, chamada Mathilde, se destacou. Com cabelos dourados que refletiam a luz do sol e olhos verdes como os campos ao redor, ela sempre foi respeitada por sua determinação e coragem. Mathilde levantou a voz acima da multidão, sua expressão resoluta atraindo a atenção dos outros.
“Quando estive na cidade do reino, ouvi falar de uma mulher que é capaz de resolver esse problema para nós,” declarou, com firmeza. “Ela é uma calculista, e dizem que possui habilidades que podem mudar nosso destino!”
As palavras de Mathilde foram como um sopro de esperança, e, após alguns momentos de hesitação, todos decidiram a uma só voz enviar a jovem ao castelo em busca da tal mulher calculista. Ela parecia a única chance de salvar suas terras e preservar o legado que tanto valorizavam.
Enquanto Mathilde se preparava para partir, uma onda de determinação a envolveu. Ela sabia que era um caminho perigoso, mas a necessidade de proteger sua aldeia era mais forte que qualquer temor. Com o coração acelerado, ela se despediu dos amigos e quando estava prestes a sair para diante de uma mulher. “Não é necessário ir à cidade do Castelo, eu estou aqui.”
Celine, com seu semblante confiante e uma aura de serenidade, se aproximou até o centro onde estava o ancião da vila. Conte-me a proposta do Lorde e a proposta de vocês.
Continua no 7
Para não ficar uma leitura muito extensa e cansativa, visto ter outros textos a ser lindo, este capitulo inteiro dividir em dez partes..
Todos os erros de Português nos nomes próprios é devido estes mesmos nomes serem de origem francesa, onde foi ambientada toda a história.
Leia a...
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