Há histórias que atravessam séculos, que resistem ao tempo porque falam de algo que é eterno: a alma humana diante do invisível. “A Jornada de Abraão” é uma dessas histórias. Ela não é apenas um relato antigo sobre um homem escolhido por Deus, mas um espelho onde ainda hoje nos enxergamos, com nossos medos, nossas dúvidas, nossas decisões e esperanças.
Abraão não sabia o caminho, mas seguiu. Não tinha todas as respostas, mas confiou. Foi chamado para sair da sua terra, deixar para trás o que era conhecido, estável e seguro. Isso, para mim, é fé: mover-se mesmo quando tudo ao redor diz para ficar. A fé de Abraão não foi feita de certezas, mas de passos. E isso me faz pensar o quanto, hoje, também somos convidados a caminhar sem mapas.
Vivemos tempos em que tudo precisa de prova, explicação, garantias. Confiar em algo que não se vê é muitas vezes motivo de escárnio ou dúvida. Mas a jornada de Abraão não exige que sejamos religiosos para nos tocarmos. Ela nos convida, sobretudo, a refletir: em que eu tenho colocado a minha confiança? É no que posso controlar? Ou existe algo maior a que posso entregar meu caminho?
Abraão foi provado. Quem, não é? Em sua história, ele esperou por anos o filho prometido, e quando finalmente o teve, foi chamado a colocá-lo no altar. Essa é, para mim, uma das lições mais duras e sublimes da vida: às vezes, o que mais amamos é o que precisamos entregar. Não porque Deus queira nos tirar, mas porque Ele quer ver onde está o nosso coração. E mais: quer mostrar que há vida mesmo depois da entrega. Que a fé verdadeira nunca termina em perda, ela passa por ela, mas alcança propósito.
Penso muito nisso quando vejo pessoas perdendo empregos, enfrentando doenças, sofrendo perdas afetivas, ou carregando feridas emocionais que ninguém vê. Em cada uma dessas situações, somos levados ao limite da nossa fé. E ali, quando não há mais recursos humanos, somos chamados a confiar, como Abraão. Não é uma fé cega, é uma fé que escolhe olhar além.
Essa história fala também sobre promessa. Abraão foi chamado para ser pai de multidões, mas antes precisou aprender a ser pai na escassez. Hoje, muitas pessoas vivem promessas não cumpridas, sonhos que ainda não floresceram. A jornada dele me ensina que o tempo de Deus não é o meu, e que aquilo que parece demorado, muitas vezes, é apenas um tempo de amadurecimento.
Não importa se você é evangélico, católico, espírita ou não segue nenhuma fé organizada. A história de Abraão nos toca porque ela é profundamente humana. Todos nós buscamos sentido. Todos desejamos saber que estamos indo para algum lugar, que nossa vida tem direção. Abraão não teve um roteiro, mas teve um chamado. E isso mudou tudo.
Hoje, quando olho para a minha própria caminhada, percebo que a fé não é um sentimento constante. Às vezes ela é forte como um rio em cheia, outras vezes se resume a uma gota de esperança num deserto seco. Mas mesmo assim, sigo. E se há algo que aprendi com Abraão, é que Deus caminha com quem ousa dar o primeiro passo.
Talvez você esteja justamente nesse ponto da estrada: entre ficar e partir, entre desistir e confiar. Se for assim, saiba que não está só. Como Abraão, sua jornada pode ser difícil, mas se for trilhada com fé, cada passo, cada renúncia e cada espera ganharão sentido. Porque, no fim, quem caminha com Deus, nunca anda em vão.
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