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Este conto foi escrito e inspirado no sonho
de conhecer o Japão da fisioterapeuta que
cuida do meu pai. O nome da personagem é real,
sendo o da homenageada com este conto.
O da filha é fictício para a história.
Lhe agradeço por possibilitar a inspiração desta história.
Elitânia...
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Escute a música no site Terra do Sol Nascente
Sentada no alto de Enoshima Island, uma pequena ilha costeira conectada a Kanagawa por uma ponte, Tânia contemplava o pôr do sol. As ondas quebravam suavemente nas rochas abaixo, criando uma música natural que embalava seus pensamentos. O sol, tingindo o horizonte de laranja e dourado, parecia uma pintura viva. A brisa leve carregava o perfume do mar misturado ao das flores de cerejeira que ainda resistiam em alguns cantos da ilha. Era um lugar onde ela costumava ir para pensar, refletir e se conectar consigo mesma.
Agora, em 2035, cinco anos após sua chegada ao Japão, Tânia não era mais a mulher insegura e cheia de dúvidas que desembarcou no Aeroporto Internacional de Narita. Ela havia construído uma vida em terra estrangeira, aprendendo não apenas a falar o idioma, mas a pensar e viver como uma verdadeira cidadã japonesa. A lembrança dos dias em que quase ficou sem dinheiro para um lanche lhe trouxe um sorriso.
— Que ironia. Quase desisti antes mesmo de começar. — Pensou, ajeitando o cachecol contra o vento frio da primavera.
O pensamento inevitavelmente voltou ao dia em que conheceu Akira Nakamura no Minato Mirai 21, em Yokohama. Ela, perdida e nervosa, tentando decifrar o mapa da cidade, e ele, um estranho gentil, oferecendo ajuda. Akira havia se tornado um amigo, quase um irmão, durante os primeiros anos de sua jornada no Japão.
— Foi Deus que colocou Akira no meu caminho. Sem ele e Haruka, nada disso seria possível. — Murmurou Tânia, enquanto o sol tocava o mar, espalhando uma trilha de luz dourada. Haruka, a esposa de Akira, foi quem a apresentou ao Tokyo Rehabilitation Center, onde sua carreira como fisioterapeuta deu um salto. Com sua ajuda e apoio, Tânia encontrou o primeiro degrau para sua ascensão profissional.
O Tokyo Rehabilitation Center se tornou um símbolo de seu crescimento. Tânia recordou os primeiros dias lá, lutando com o idioma, mas ganhando a confiança dos colegas e pacientes com sua dedicação e empatia. Hoje, ela não apenas era uma das principais fisioterapeutas da clínica, mas também havia criado novos protocolos que combinavam técnicas brasileiras e japonesas. Esses avanços a tornaram uma referência na área, rendendo-lhe segurança financeira e estabilidade.
Apesar disso, a conexão com Akira e Haruka havia se tornado menos frequente. As agendas atarefadas e os compromissos profissionais diminuíram os encontros, mas as mensagens e chamadas ainda mantinham viva a amizade que tanto significava para ela.
Enquanto o sol continuava a se esconder no horizonte, Tânia observou uma cena que lhe tocou profundamente. Uma mãe e sua filha pequena brincavam na areia da praia logo abaixo do mirante onde ela estava. A menina, de cachos escuros e sorriso radiante, corria com os braços abertos, enquanto a mãe a observava com carinho.
— Não posso mais adiar isso. — Murmurou Tânia, sentindo um aperto no coração.
Havia algo, ou melhor, alguém, que ela deixará no Brasil: sua filha, Isadora. Quando decidiu partir para o Japão, Isadora tinha apenas treze anos. Tânia sabia que não poderia trazê-la naquela época, pois ainda precisava construir uma base sólida para oferecer um futuro estável. Os anos passaram, e a saudade, embora atenuada pelas chamadas de vídeo e mensagens, nunca desapareceu. Agora, aos dezoito anos, Isadora podia finalmente se juntar a ela.
Tânia pegou o celular e abriu a galeria de fotos. Uma imagem de Isadora, tirada em sua última visita ao Brasil, apareceu na tela. A jovem tinha o mesmo sorriso de quando era criança, mas agora era uma mulher em flor, pronta para explorar o mundo.
— Ela precisa de mim tanto quanto eu preciso dela. Este país pode ser o nosso lar. — Pensou, com os olhos fixos no mar.
A decisão estava tomada. Nos próximos dias, Tânia faria todos os preparativos para trazer Isadora ao Japão. Imaginava as duas explorando juntas os mercados e templos que se tornaram parte de sua rotina, aprendendo juntas sobre a cultura e criando novas memórias.
Enquanto a última luz do sol desaparecia, Tânia sentiu uma mistura de emoção e tranquilidade. Sua jornada no Japão estava longe de terminar. Agora, com Isadora ao seu lado, ela poderia iniciar um novo capítulo. A "Terra do Sol Nascente" continuava a oferecer desafios e promessas, e Tânia estava pronta para enfrentá-los, como sempre fizera: com coragem, amor e esperança.
Naquela noite, ao voltar para seu apartamento em Yokohama, Tânia ligou para Isadora.
— Filha, está na hora de você vir para cá. O Japão está esperando por você.
Do outro lado da linha, a voz de Isadora trouxe uma alegria que aqueceu o coração de Tânia. A jornada não era mais apenas dela. Agora, seria das duas.
FIM.