Cançoes & Poesias
Onde Melodias Encontram Versos e a Arte em Harmonia Flui
Quioto, Japão, primavera de 1980. O ar era fresco, carregado pelo perfume das cerejeiras em flor, e as ruas tranquilas vibravam com a energia tímida de um novo ano escolar. Era nesta cidade de templos antigos e modernidade em ascensão que dois amigos inseparáveis construíram seus sonhos e compartilhavam segredos.
Kazuo Tanaka e Hiroshi Nakamura nasceram na mesma rua, em casas que ficavam lado a lado. Desde pequenos, seus destinos pareciam entrelaçados como os galhos das árvores que sombreiam o templo Kiyomizu-dera, onde brincavam frequentemente.
Kazuo era o reflexo da disciplina e seriedade que seus pais, donos de uma pequena livraria, incutiram em sua criação. Seu amor por livros o fazia uma figura peculiar: um adolescente de óculos, com postura ereta, caderno sempre em mãos, e um ar de maturidade que o tornava respeitado entre os colegas. Hiroshi, por outro lado, era a personificação do caos encantador. Filho de um mestre de ikebana e de uma dona de casa alegre, ele cresceu com uma visão romântica da vida. Sempre enérgico, suas piadas o colocavam no centro de todas as atenções, enquanto seu talento com kendo e esportes o fazia admirado entre as garotas da escola.
“Você não acha engraçado como as folhas caem em círculos antes de tocarem o chão?” Hiroshi perguntou certa vez, enquanto observavam as cerejeiras no parque.
“Talvez isso signifique que há beleza até mesmo na despedida,” respondeu Kazuo, sem tirar os olhos de seu livro.
Essa troca, simples e poética, definia a amizade deles: Hiroshi via o mundo como um palco de emoções, enquanto Kazuo o via como um texto a ser decifrado.
Os Dias de Escola e a Primeira Visão de Aiko
Era o início de abril, e as cerejeiras estavam em pleno florescimento. Na escola secundária Keika, os alunos voltavam à rotina após o festival de hanami, e a excitação era evidente nos corredores. Hiroshi andava entre os amigos, rindo alto, enquanto Kazuo o seguia com um sorriso discreto.
“Hoje teremos uma aluna nova,” anunciou o professor, ajustando os óculos com uma gravidade que contrastava com o burburinho da sala.
Quando a porta deslizou para o lado, uma jovem atravessou o limiar, e o tempo pareceu parar. Ela usava o uniforme azul e branco com perfeição, os cabelos longos e pretos presos em um rabo de cavalo que balançava levemente enquanto ela caminhava. Seus olhos, castanhos e intensos, observavam a sala com um misto de curiosidade e timidez.
“Meu nome é Aiko Fujimoto. Espero que possamos ser amigos.” Sua voz era delicada, mas firme, e os murmúrios dos alunos preencheram o silêncio que se seguiu.
Kazuo a observou com interesse, mas foi Hiroshi quem quebrou o momento, inclinando-se em sua cadeira e sussurrando: “Acho que acabei de ver um anjo.”
Aiko foi designada para se sentar ao lado de Kazuo, que, embora fosse reservado, cumprimentou-a com um aceno educado. Hiroshi, por outro lado, começou a inventar maneiras de chamar a atenção dela desde o primeiro intervalo.
“Então, Fujimoto-san, você já ouviu falar do melhor jogador de kendo da escola?” ele perguntou, apontando para si mesmo com um sorriso.
“Não, mas parece que vou ouvir muito sobre ele,” respondeu ela, com um sorriso que era uma mistura de diversão e desafio.
Kazuo observava a interação em silêncio. Embora não dissesse nada, sentia algo diferente dentro de si. Não era apenas a beleza de Aiko que o intrigava, mas a aura serena e inteligente que ela exalava.
A Mudança no Equilíbrio
Os dias se transformaram em semanas, e a presença de Aiko tornou-se uma constante entre Kazuo e Hiroshi. Ela era encantadora sem esforço, inteligente sem ostentação, e sua risada tinha um tom cristalino que parecia iluminar qualquer ambiente.
“Vocês sempre foram tão próximos assim?” ela perguntou em um fim de tarde, enquanto os três caminhavam juntos após a aula.
“Desde que eu consigo me lembrar,” respondeu Kazuo.
“Mas sou eu quem torna a amizade divertida,” brincou Hiroshi, piscando para ela.
Embora risse da brincadeira, Aiko parecia compartilhar um tipo de conexão mais profunda com Kazuo. Ela frequentemente o encontrava na biblioteca, onde passavam horas discutindo literatura e história, enquanto Hiroshi estava nos treinos de kendo.
“Você tem um jeito muito tranquilo de ver o mundo, Kazuo. É reconfortante,” disse ela certa vez, enquanto folheava um livro que ele havia recomendado.
“E você traz cor ao meu mundo, Aiko,” respondeu ele, com uma honestidade que o surpreendeu.
Enquanto isso, Hiroshi começava a perceber que seus esforços para conquistar Aiko muitas vezes eram ofuscados pela calma natural de Kazuo. Ele não dizia nada, mas a sombra do ciúme começou a se infiltrar, silenciosa e corrosiva.
O Festival da Primavera
O ápice daquele primeiro ano foi o Festival da Primavera, um evento tradicional que a escola organizava anualmente. Hiroshi, como sempre, liderou as preparações do evento esportivo, enquanto Kazuo foi responsável pela organização da tenda de literatura. Aiko, dividida entre os dois, ajudou em ambas as frentes.
Na noite do festival, as lanternas de papel iluminavam o pátio da escola, e o aroma de yakisoba e taiyaki preenchia o ar. Hiroshi encontrou Aiko perto da roda-gigante improvisada, usando um yukata azul claro que destacava ainda mais sua beleza.
“Posso acompanhá-la até o templo?” ele perguntou, oferecendo o braço.
Antes que ela pudesse responder, Kazuo apareceu, segurando um livro que havia prometido entregar a ela. O constrangimento no ar era palpável.
“Ah, Kazuo, sempre no momento certo,” Hiroshi comentou, com uma risada que não alcançava os olhos.
Aiko hesitou antes de pegar o livro, agradecendo com um sorriso. No entanto, era claro que aquele momento, pequeno e aparentemente insignificante, marcaria o início de uma ruptura.
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CONTINUA....
Nesse primeiro capítulo estabelece a profunda amizade entre Kazuo e Hiroshi, a chegada de Aiko e a sutil tensão que começa a crescer entre eles.
