Escrito ao longo de cinco dias no hospital
No Ritmo das Máquinas
O som das máquinas invade o ar,
Como um relógio que nunca para,
Ele ali, sem poder se levantar,
Enquanto a vida ao redor se mascara,
E o tempo se arrasta, sem cessar.
As máquinas ditam o ritmo do seu ser,
Fazem o trabalho que antes era seu,
E eu, sentado, só posso crer,
Que ele voltará, que não se perdeu,
Na dança entre a vida e o não viver.
Cada boletim é um fardo a carregar,
Com palavras que pesam, mas também aliviam,
Entre o "ele está bem" e o "vai melhorar",
A esperança e o medo se atrelam e dilatam,
No compasso das máquinas que continuam a cantar.
O sol lá fora brilha sem saber,
Do mundo pequeno que construí aqui,
Onde a espera é tudo o que posso fazer,
Onde cada minuto parece um eterno repetir,
E as máquinas, em uníssono, não deixam de ser.
Mas eu continuo a esperar e crer,
Que ele sairá desse ciclo impiedoso,
Que as máquinas enfim se calarão ao anoitecer,
E ele voltará para um mundo luminoso,
Onde o ritmo da vida não mais vai depender.
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Leia o texto que deu origem a esta carta. Esperança entre Máquinas e Memórias