Escrito ao longo de cinco dias no hospital
No Brilho do Sol e na Espera
No brilho do sol da manhã,
Eu me sento a esperar,
Na cadeira que me acompanha,
E que não me deixa parar,
O peito apertado, insano,
Só quer ver o meu pai voltar.
Cinco dias que parecem eternos,
De uma dor que não tem fim,
O sol brilha lá fora, sereno,
Mas aqui dentro é assim,
Um misto de fé e medo,
Que tira o sossego de mim.
As máquinas que o rodeiam,
Respiram por ele agora,
Trabalham sem descanso,
Num ritmo que me apavora,
Pois ele sempre foi tão forte,
E essa fraqueza me devora.
Ele, que viveu com vigor,
Agora depende de fios,
Que o mantêm em algum calor,
Mas o fazem refém do frio,
Que invade a sala branca,
E me enche de arrepio.
O boletim médico é sempre,
Um pedaço de esperança,
Entre o "bem" e o "instável",
Minha fé não cansa,
De acreditar no retorno,
Que me trará bonança.
Mas o tempo se arrasta lento,
E a dor não me abandona,
Cada segundo é um tormento,
Que meu coração aprisiona,
Entre o desejo de vê-lo,
E a espera que me transtorna.
As máquinas fazem o que podem,
Mantêm a vida suspensa,
Mas só desejo que acordem,
E que devolvam a presença,
Do homem que tanto amo,
E que nessa luta não vença.
As paredes do hospital,
São um mundo fechado,
Onde a luz do sol não é igual,
Onde o tempo é fragmentado,
E cada dia parece,
Um futuro mal traçado.
Quero acreditar que o amanhã,
Trará o milagre esperado,
Que meu pai sairá dessa cama,
E voltará para o seu lado,
Onde o sol brilha mais quente,
E o ar é mais sagrado.
A esperança é o que me resta,
Nesse mar de incerteza,
Onde cada palavra é uma fresta,
De luz e de tristeza,
Mas ainda insisto em crer,
Que virá a sua firmeza.
O trânsito lá fora flui,
Como a vida que segue além,
Mas aqui dentro o tempo rui,
E o que resta é o refém,
De uma espera interminável,
Que não me traz mais ninguém.
O sol brilha na manhã,
Mas sua luz não me toca,
Pois o que busco é amanhã,
Que meu pai retorne à porta,
E que as máquinas calem,
A música fria que entoca.
Quero vê-lo fora desse quarto,
Livre de tubos e fios,
Quero sentir o seu abraço,
Quente como os rios,
Que correm livres e fortes,
Sem temor dos desafios.
As máquinas que ele tanto usou,
Agora são sua prisão,
Mas eu rezo e peço ao céu,
Que lhe dê uma nova estação,
Onde ele volte a sorrir,
E deixe essa solidão.
Cinco dias de uma dor imensa,
Mas a esperança não se vai,
Acredito no milagre que pensa,
E que me devolve meu pai,
Para a vida que nos espera,
Onde o sol nunca se esvai.
Assim, continuo aqui,
Na cadeira, firme e só,
Esperando que o fim,
Seja o começo sem nó,
Onde o sol brilhará mais forte,
E meu pai voltará, sem dor.
Que as máquinas descansem,
Que o som delas se cale,
E que o sol da manhã,
Finalmente me fale,
Que o dia chegou ao fim,
E que meu pai está em casa, vale!
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Leia o texto que deu origem a este Cordel. Esperança entre Máquinas e Memórias