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No assombro de um golpe, o mundo girou,
O sangue tingiu a visão em vermelho.
Caiu sem um nome, sem tempo, sem sol,
No silêncio que mora entre o som e o espelho.
Buscou na memória um traço, uma voz,
Um vulto perdido entre luzes e dor.
As ruas falavam em rostos ferozes,
E a boca da noite soltava o terror.
Caminhou entre sombras de bicho e de gente,
Com olhos de coruja e dentes de cão.
E a própria imagem no vidro silente
Tornava-se fera, um reflexo em mutação.
A chave no bolso, o símbolo antigo,
Gravado em metal, sua forma final.
Segredos guardados, um rastro, um abrigo,
O hotel, a mulher, o ritual.
Bebeu o remédio, cedeu ao veneno,
Entregue ao destino que nunca escolheu.
Desfez-se a mentira, revelou-se o sereno
Instinto ancestral que dormia no breu.
“Filho”, disse ela, com calma e calor,
E o nome perdido voltou-lhe à mente.
Agora era fera, agora era dor,
Agora era tudo o que foi, plenamente.
Urrou para o mundo, que enfim o temia,
E partiu, renascido, senhor da caçada.
Quem tenta esquecer o que é por magia,
Acaba lembrando por alma marcada.