No dia em que a pena calou,
não houve trovão nem canto.
Foi só um tempo que parou
e um coração que cansou
de fingir que não era pranto.
Fiquei olhando a janela
como quem busca um sinal.
Mas nem céu, nem centelha,
me disseram onde vela
a beleza do final.
O que era leve virou pedra,
o que era voz, silêncio.
Cada página era queda,
e a poesia, tão cega,
me deixava em penitência.
Fui largando meus cadernos,
me afastando do papel.
Era um luto sem termos,
um deserto de invernos
onde o verbo não era fiel.
Assim partiu o poeta,
sem choro, sem multidão.
Só restou a dor secreta
e uma alma incompleta
preservando a ilusão.
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