Fui me perdendo devagar,
sem alarde, sem ruído.
A poesia a escapar
pelas dobras do olhar
e do tempo corroído.
Esqueci como rimar
com os sentimentos meus.
Ficou árduo mergulhar
no profundo desse mar
onde habitavam os deuses.
As imagens me traíam.
As metáforas morriam.
As palavras se escondiam
nos cantos em que dormiam
as saudades que doíam.
Deixei então de insistir.
Desisti de me enganar.
Já não podia fingir
que ainda sabia florir
em palavras sem lugar.
Ser poeta é ferida
que exige ser aberta.
Mas fui fugindo da vida
e deixando a porta erguida
com a inspiração incerta.
----------------------------------------------------
Esse e outros poemas fiz quando o mundo pra me já fazia sentindo e tudo o que eu tinha além da dor recente da perda de minha mãe, era um caderno, uma caneta. E nas noites, muitas delas que eu via o sol nascer na companhia do álcool em algum canto da cidade, eu escrevia. Há uma poesia que eu escrevi, numa tarde após a chuva, eu estava sóbrio nesse dia, numa parada de ônibus.
Uma senhora que esperava a condução via que escrevia, ela se aproximou e perguntou o que eu escrevia, quando respondi ela pediu que eu fizesse um poema para ela entregar pra filha dela que seria pela primeira vez mamãe. A noite, eu que tantas vezes me perguntava, escrever pra quer, eu dizia que se havia um poeta ou alguém que gostasse de poesias avia morrido. Então nos piores momentos eu escrevia poesias como uma despedida, como um poeta que morre no sentido de escrever, de deixar a poesia morrer em si. Sim, eu fiz o poema da senhora e mandei pelo número que ela avia deixado comigo. Mas de um mês depois. pelo celular de um amigo. Ela respondeu agradecendo.
Porque eu digo isso: "Porque quando a poesia ou o dom de escrever habita em você, ele não morre, adormece, talvez. Escrever liberta mais do que se possa imaginar, mantém sua mente limpa e te faz esquecer certas dores, ou transforma elas em poesias como lembranças eternas"
Obrigado a todos aqui do Recanto
Na época deste poema A Sales sem esperança, hoje