Corvo do Silêncio
"Onde o mundo grita, o Corvo do Silêncio escreve, e no som das palavras, a alma desperta."
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Textos

Promessa de um Pai no Sertão

 

Comentavam já em toda região,

Sobre um rapaz, nova sensação.

Diziam: “Em Barretos ele vai brilhar,

Campeão dos campeões vai se tornar!”

Mas a história por trás do destino,

Traz saudade, lamento e desatino.

 

O pai de Rosa, seu nome é João,

Homem sério, valente do sertão.

Alto, moreno, de olhar penetrante,

Braço forte, semblante marcante.

Mesmo cansado dos seus afazeres,

Jamais faltava às lidas e deveres.

 

João era exemplo de homem inteiro,

Justo, honrado, firme e vaqueiro.

Tocava terra com mãos de saber,

Sabia plantar, colher e sofrer.

Mas após a perda do seu menino,

Ficou mais calado, mais cristalino.

 

A mulher de João, dona Tereza,

Murchou com a dor e com tristeza.

A cama virou seu campo de guerra,

O coração, saudade que não encerra.

Desde o dia que o filho partiu,

Tudo nela, aos poucos, se sumiu.

 

O rapaz era orgulho do sertão,

Filho de alma, braço e coração.

Chamava-se Miguel, o destemido,

Vaqueiro ágil, menino querido.

Montava cavalo com precisão,

Com garra, alma e devoção.

 

Foi numa tarde de sol a pino,

Em Riacho Seco, campo cristalino.

Miguel corria atrás de um boi brabo,

Que já derrubara mais de um cabo.

O povo gritava, vibrava forte,

Mas ninguém sabia da triste sorte.

 

O boi era negro, olhava com fúria,

Tinha nos chifres marcas da injúria.

Já derrubara dois no mesmo dia,

E Miguel quis provar sua valentia.

Fez o sinal, correu com destreza,

E o povo aplaudia sua leveza.

 

Mas no virar do último laço,

O boi torceu, mudou de espaço.

O cavalo escorregou no chão,

E Miguel caiu, sem direção.

O povo calou, silêncio profundo,

Ali findava um sonho do mundo.

 

O boi malvado voltou e atingiu,

Com a cabeça o peito feriu.

Miguel tentou levantar, resistir,

Mas sua alma começou a partir.

Nos braços do pai caiu sem vida,

E João, então, chorou sua partida.

 

Foi enterrado no alto do morro,

Com chapéu, medalha e estandarte de forro.

Toda a cidade parou pra rezar,

Ninguém conseguia mais trabalhar.

Rosa desabou com o coração,

E Tereza se afundou na solidão.

 

Desde esse dia, João se calou,

Nas vaquejadas nunca mais montou.

O homem valente virou silêncio,

E até o mato sentia seu incenso.

Dois torneios passaram e ele não foi,

Pois ver disputa, pra ele, já doía.

 

Tereza em casa, sem forças, parada,

Vivia de dor, de alma quebrada.

João cuidava dela com carinho,

Mesmo sofrendo no mesmo caminho.

Mas nada fazia ela esquecer

O dia que viu o filho morrer.

 

Porém, um milagre o tempo plantou,

Pois Rosa um dia novamente sorriu.

João viu a filha se levantar,

Botar vestido e cabelo arrumar.

Seguiu as amigas até a final,

E isso pra ele foi sinal.

 

Ela voltou, pensou com emoção,

Tem novo brilho seu coração!

E por dentro, João então falou:

Filho, tua irmã também te honrou.

Se ela voltou pra arquibancada,

É porque tua luz foi semeada.

 

A disputa de Pedro, o moço valente,

Fez João parar, olhar de repente.

Viu ali um fogo novo no ar,

E sentiu que era hora de lutar.

Pensou consigo, firme e decidido:

Promessa faço por meu filho querido.

 

Terminando este torneio da região,

Farei o maior em todo sertão!

Em Barretos, será feito em teu nome,

Com medalha, busto e estandarte nobre.

Ali vai correr quem for de coragem,

E tua memória será homenagem.

 

Tereza ouviu, com olhos molhados,

João, faz isso, pelos nossos passados.

E ela sorriu, mesmo ainda cansada,

Como se a alma fosse aliviada.

Vai por ele, vai por você,

E por Rosa, que voltou a viver.

 

João então mandou chamar os vaqueiros,

De norte, sul, até os estrangeiros.

Convocou juiz, mandou fazer pista,

Com as regras justas da velha lista.

E em Barretos, prometeu ao povo,

Esse será o começo do novo.

 

E assim, entre saudade e redenção,

Nasceu mais forte o coração do sertão.

A dor não passa, mas ensina a lutar,

E João sabia que ia honrar.

Com gado bravo e cavalo ligeiro,

O filho viveria em cada vaqueiro.

 

Na cruz do morro, ele um dia parou,

Levou a enxada e o chão arrumou.

Plantou ali uma muda de flor,

Com o nome Miguel, feito em amor.

E jurou pro céu, de alma lavada:

Barretos, por ele, vai ser consagrada.

 

Minha homenagem a todos os vaqueiros e vaqueiras desde Brasil

 

 

Corvo do Silêncio
Enviado por Corvo do Silêncio em 27/07/2025
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