Sou poeta fora do tempo,
fora de verso e de chão.
Já não vivo o encantamento
nem sustento o firmamento
do que brota da emoção.
As pessoas não entendem
o silêncio do escritor.
Elas pedem o que prendem
e não sabem que ofendem
quem já perdeu o ardor.
Tentei caber em padrões,
fiz poema de encomenda.
Mas sem minhas sensações,
não restaram emoções,
só palavras sem lenda.
Hoje sou só aparência,
um rascunho de passado.
Meus versos são carência
do que foi, da inocência
de quem já foi inspirado.
Deixei de ser o poeta
das dores e dos amores.
Fui me apagando na reta
e morri como profeta
de tanto engolir rumores.
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Esse e outros poemas fiz quando o mundo pra me já fazia sentindo e tudo o que eu tinha além da dor recente da perda de minha mãe, era um caderno, uma caneta. E nas noites, muitas delas que eu via o sol nascer na companhia do álcool em algum canto da cidade, eu escrevia. Há uma poesia que eu escrevi, numa tarde após a chuva, eu estava sóbrio nesse dia, numa parada de ônibus.
Uma senhora que esperava a condução via que escrevia, ela se aproximou e perguntou o que eu escrevia, quando respondi ela pediu que eu fizesse um poema para ela entregar pra filha dela que seria pela primeira vez. A noite, eu que tantas vezes me perguntava, escrever pra quer, eu dizia que se havia um poeta ou alguém que gostasse de poesias avia morrido. Então nos piores momentos eu escrevia poesias como uma despedida, como um poeta que morre no sentido de escrever, de deixar a poesia morrer em si. Sim, eu fiz o poema da senhora e mandei pelo número que ela avia deixado comigo. Mias de um mês depois.
Porque eu digo isso: "Porque quando a poesia ou o dom de escrever habita em você, ele não morre, adormece, talvez. Escrever liberta mais do que se possa imaginar, mantém sua mente limpa e te faz esquecer certas dores, ou transforma elas em poesias como lembranças eternas"
Obrigado a todos aqui do Recanto