No sertão de Limoeiro, o sol ardia,
A vaquejada fervia, a alma explodia.
Pedro chegou montado, chapéu na mão,
Trovão relinchava, sentia a emoção.
Era a semifinal, hora de provar,
Que não é idade que faz ganhar.
O oponente era Bento, homem vivido,
De Serrita, vaqueiro já conhecido.
Campeão de feira, premiado e destemido,
Frio no gesto, cavalo temido.
O povo cochichava: “Pedro vai cair!”
Mas no peito dele só havia porvir.
Rosa, entre amigas, de branco vestida,
Estava lá, tão bela e contida.
Dispensava moço, ignorava flerte,
Mas seus olhos buscavam com certa sede.
E no instante que Pedro entrou na pista,
O coração da moça bateu mais à vista.
O juiz gritou: “Solta o boi, cabra!”
A poeira subiu, a galera se abraça.
Bento partiu com experiência e mira,
Derrubou o boi reto, como se gira.
O público aplaudiu com firme respeito,
Pedro suou frio, bateu no peito.
Agora era ele, jovem no calor,
Carregando nas rédeas fé e amor.
O boi correu feito raio no chão,
Trovão galopou como trovão em ação.
Na linha da esteira, um salto, um laço,
Pedro puxou com coragem no braço.
A poeira subiu no céu do sertão,
E o boi caiu na marca do chão.
A bandeira vermelha tremulou no ar,
Pedro venceu, e foi de arrepiar.
Bento aceitou com honra e sorriso,
"Esse menino merece o paraíso."
O povo gritava com tanta emoção,
Aplaudindo o vaqueiro do coração.
Rosa aplaudia também, encantada,
Sem saber porquê, emocionada.
Sabia apenas que Pedro brilhava,
E o peito dela, forte pulsava.
Chegou o momento da grande final,
Contra Zé Carlos, um lenda sem igual.
De Petrolina, homem de respeito,
Forte no braço, vaqueiro perfeito.
Quinze anos sem perder na pista,
Pedro enfrentaria a fera otimista.
Na arena, silêncio e suor no rosto,
O juiz ergueu o braço com gosto.
Zé Carlos entrou com cavalo ligeiro,
Laçou o boi como um justiceiro.
Mas na reta final, tropeço do gado,
A esteira falhou, boi foi de lado.
Bandeira branca: ponto perdido,
Zé Carlos ficou com olhar ferido.
Agora Pedro podia ser campeão,
Se fizesse a prova com precisão.
O coração do povo era tambor,
Tocando forte por seu valor.
Rosa, de pé, sentia no peito,
Um fogo novo, puro e perfeito.
Pedro respirou, fitou o céu,
Fez promessa, tirou o chapéu.
"Por mim, por ela, por meu sertão,
Senhor, guia minha mão!"
Trovão relinchou, pronto pro combate,
O boi saltou feito bala no embate.
Pedro esperou com tempo e ciência,
Braço certeiro, alma em paciência.
Lançou o corpo junto ao cavalo,
E num só grito, venceu o estalo!
Pegou no chifre, puxou com garra,
Na linha da esteira, a poeira farra.
Boi caiu reto, sem resistir,
E o povo inteiro começou a aplaudir.
Bandeira vermelha voou no ar,
Pedro era o novo rei do lugar!
O locutor gritava com alegria:
"É campeão! Que valentia!"
As palmas subiam feito oração,
O povo chorava com emoção.
Pedro desceu do cavalo chorando,
O rosto em lágrimas, fé louvando.
Zé Carlos veio, braço estendido,
Reconheceu no moço o merecido.
“Hoje foste melhor, cabra de fé,
Tens futuro, és vaqueiro de axé.”
Pedro sorriu com honra e humildade,
Pois vencia com simplicidade.
Rosa desceu, quase sem pensar,
Entre o povo, foi se aproximar.
Pedro a viu, coração disparou,
E o peito do vaqueiro até tremeu.
Não disse nada, mas sorriu contente,
Rosa sorriu também, docemente.
Ali, no meio da multidão,
Se cruzaram destinos e coração.
O vaqueiro que venceu com bravura,
E a moça que guardava ternura.
Duas histórias se reconhecendo,
Sem palavras, só se entendendo.
O povo gritava, jogava chapéu,
Mas Pedro só via Rosa, seu céu.
Era mais que vitória de vaquejada,
Era paixão nascendo em alvorada.
Enquanto o sol caía no horizonte,
Pedro via amor em cada monte.
Recebeu medalha, bexiga e troféu,
Mas queria mesmo o olhar de papel.
Aquele que Rosa lhe oferecia,
Sem falar nada, só poesia.
E no fundo sabia com emoção:
Vencer Rosa era outra competição.
A noite caiu com festa e dança,
Pedro no centro, cheio de esperança.
Rosa sentada ao lado da mãe,
Mas lançava olhares que iam além.
E o vaqueiro, tremendo no chão,
Sonhava laçar não boi, mas paixão.
A sanfona tocava “Asa Branca”,
E o povo rodava a ciranda franca.
Pedro foi dançar, todo nervoso,
Mas Rosa sorriu: “Vai, moço formoso.”
Ele dançou desajeitado e risonho,
Era vaqueiro vivendo o seu sonho.
Naquela noite, nasceu um sentir,
Que nem a distância iria fugir.
Ela sorriu mais uma vez pra ele,
E Pedro guardou no peito aquele.
Era o prêmio maior da jornada,
Mais que troféu, a alma encantada.
No outro dia, antes do sol raiar,
Pedro partiu pra casa a cavalgar.
Levava troféu, medalha e glória,
Mas o que mais pesava era outra história.
O olhar de Rosa, calmo e sereno,
Ficou gravado feito canto terreno.
Na poeira da pista ficou a lenda,
Do vaqueiro novo e sua contenda.
Mas no sertão, todos sabiam então,
Pedro não ganhou só com a mão.
Ganhou com alma, suor e ternura,
E deixou em Limoeiro sua doçura.
Assim corre a vida no nordestão,
Entre vaquejada, poeira e paixão.
Pedro seguiu com nome e respeito,
Mas levava Rosa dentro do peito.
E quem viu aquela final, se emociona,
Pois ali venceu o amor… no coração.
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Um Pensamento
Ser vaqueiro é mais do que um ofício, é carregar no peito a alma do sertão, o cheiro da terra molhada, o som do berrante no silêncio da manhã. É acordar antes do sol e seguir o rastro do gado com coragem e respeito, enfrentando a seca e a tempestade com a mesma firmeza. O vaqueiro não doma apenas bois, mas também a solidão, o tempo e os próprios medos. É poesia em movimento, suor que canta na pele, tradição que pulsa nos cascos. Ser vaqueiro é honrar a lida com o mundo e ouvir o sertão falar dentro do peito.
Dedicado a todos os vaqueiros deste imenso país que ainda é pouco lembrado e mais ainda mencionado.
Aqui faço lembrar e suas bravuras, conquistas e amores vividos e os que foi impedido.
A vocês nobres vaqueiros sejam homens ou sejam mulheres...
eu tiro o meu chapéu.