Apólogo
Num estojo antigo, esquecido sobre uma escrivaninha empoeirada, morava uma caneta de tinteiro elegante. Seu corpo de metal reluzente lembrava as lâminas afiadas dos cavaleiros que lia nos livros em volta. E, com o tempo, a caneta passou a desejar profundamente ser uma espada.
— Que glória tem riscar papéis, se eu poderia cortar injustiças? Dizia ela, entediada com as poesias e cartas que escrevia.
A régua, sempre séria, advertia:
— Tua força não está em cortar, mas em construir. Uma palavra bem escrita pode mudar mais que mil batalhas.
Mas a caneta não ouvia. Sentia-se fraca, inútil diante da ideia romântica de duelar, de vencer o mal com um só golpe. Queria ser lembrada em livros de história, não dentro deles.
Certa tarde, uma mão apressada a puxou do estojo. Era um jovem poeta, perturbado pelo que via ao redor: injustiças, guerras, silêncios. A caneta mergulhou no tinteiro e começou a correr pelo papel. O jovem escrevia um manifesto. Suas palavras inflamadas corriam o mundo, libertando mentes, provocando mudanças, acendendo coragem.
A caneta, ao fim da última linha, percebeu: não precisava ser espada, pois já empunhava a maior de todas as armas: a palavra.
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Quem escreve com verdade e coragem corta mais fundo que qualquer lâmina.