Capítulo 32
O Impacto Final
Quando a verdade rompeu as telas e o mundo viu o invisível
Foram séculos desde 1650 que Capricórnio tentou por todos os meios se apossar de um poder invisível para a humanidade, um poder que lhe daria o domínio absoluto sobre a vida e a morte.
Mas em meio à dor, à perda e à profecia, algo mudou. No pranto silencioso de Escorpião ao ver sua amada perder sua aura astral, surgiu um juramento. Ele prometeu cumprir seu último pedido: criar a Ordem da Coruja. E o fez. Com o tempo, a dor da perda deu origem a muitas vidas salvas, a muitas histórias preservadas, a consciências despertas. Porque a mesma força que Capricórnio desejava usar para dominar, Escorpião canalizou para proteger. E agora, no presente, o embate final estava diante dos olhos do mundo.
Às 3h20 da madrugada, uma pequena emissora de televisão do interior, pouco assistida, conseguiu romper o cerco de segurança, passando por acessos de terra e posicionando uma unidade móvel a uma distância segura da Colina de Ellenshade. O repórter, suando em frio mesmo com o clima gélido da noite, ajeitou o ponto no ouvido e recebeu o sinal da central.
— Estamos ao vivo? Sim? Ok... atenção! Sussurrou, e então virou-se para a câmera.
Com a respiração tensa, mas os olhos famintos pelo inédito, começou:
— Boa madrugada a todos. São exatamente 3h22 e o que estamos presenciando aqui, senhores, não pode ser explicado com nenhuma lógica científica, religiosa ou filosófica que já tenhamos conhecido. Eu estou ao vivo na Colina de Ellenshade e vocês... vocês precisam ver isto.
Ele se afastou dois passos, abrindo o quadro para a câmera.
— Senhoras e senhores... ali! Aquela figura que vocês veem, em meio às luzes, ao centro exato da colina... é ela. É a mulher que os locais estão chamando de 'A Guardiã'. Agora há pouco, ela cravou uma espada de aparência ancestral no solo, e uma onda de energia, sim, de energia! Varreu o campo como se fosse um segundo terremoto. A relíquia que um outro homem, que até agora não foi identificado, tentava posicionar no mesmo ponto foi arremessada junto com ele, como se a própria terra o tivesse repelido!
As imagens mostradas eram surreais. O céu, naquele instante, parecia ter sido riscado por veias de luz, como se um coração cósmico estivesse pulsando sobre a terra. A espada, fincada no solo, vibrava com intensidade. Ao redor dela, marcas astrais surgiam no chão como inscrições em chamas.
— Vejam isso! Disse o repórter, apontando com a mão trêmula. — Há pouco tempo, esse outro homem que vocês viram sendo arremessado. Ele sobrevoou o campo após um impacto gerado pela Guardiã! Ela, essa mulher, parece ter algo em sua presença que desafia tudo o que conhecemos. Uma força que... que parece ser maior do que o próprio tempo!
A transmissão se expandia para os lares, e as redes sociais explodiam. As pessoas em casa, paralisadas diante das telas, misturavam medo, admiração e incerteza.
"— Isso é montagem?"
"— É CGI, só pode ser!"
"— Mas estamos vendo ao vivo, e tem pessoas comentando de cidades vizinhas!"
"— Estou a 12 km da colina e o céu tá roxo aqui!"
As mensagens pipocavam, acompanhadas por vídeos caseiros de luzes cortando o céu em linhas retas, formando triângulos perfeitos. Algumas pessoas gravavam de dentro dos carros, outras subiam em telhados, outras choravam. A comoção se misturava ao trauma recente da pandemia. Havia ainda o medo enraizado pela COVID-19, e agora tudo aquilo.
— Um morador aqui ao meu lado, senhor Olavo, diz que nunca viu nada parecido. Seu Olavo, o que o senhor acha que é isso? Perguntou o repórter.
— Isso? Isso é o juízo! Ou o começo dele. Eu sempre disse que essa colina não era normal! Olha o céu! O céu tá abrindo! Gritou o velho, apontando com os olhos marejados.
— Senhoras e senhores, há poucos instantes, olha ali! Isso! Aquele homem! Ele saltou no ar, pegou o outro homem e o jogou ao chão! Ele... ele está com o pé sobre ele agora mesmo! Meu Deus...
A câmera tremia levemente, mas mantinha o foco. Lá, ao centro da colina, as linhas da convergência finalmente se cruzavam. Três feixes intensos de luz desciam dos céus e tocavam a espada. O brilho era quase insuportável. O som? Um zumbido, como um cântico milenar vibrando sob a pele.
— O que estamos vendo não é um filme, não é ficção, não é um projeto militar, continuava o repórter, com a voz cada vez mais embargada. — Eu... eu não sei exatamente o que é, mas uma coisa posso afirmar: o mundo mudou hoje. Neste minuto. Neste lugar.
O quadro voltou para a câmera frontal, mostrando o rosto dele, pálido, mas firme.
— São 3h28 agora. Aquelas três linhas... eu não sei o que isso significa no total. Mas talvez... talvez signifique que ainda temos chance. Porque o que quer que estivesse prestes a tomar o controle total... falhou. E nós vimos. Vocês viram. Ninguém poderá apagar isso.
Ele mostra outras cenas reais: Capricórnio, estendido no chão. Escorpião, firme sobre ele. A espada, incandescente no centro do campo. A Guardiã, com o rosto voltado para os céus. As linhas ainda vibravam. E o mundo... o mundo assistia.
Continua...