Corvo do Silêncio
"Onde o mundo grita, o Corvo do Silêncio escreve, e no som das palavras, a alma desperta."
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Textos

Capítulo 26

As Sombras se Alinham

A Colina, o Céu e a Hora Marcada

 

 

Ellenshade dormia sob o véu espesso da madrugada, envolta num silêncio inquieto, próprio das vilas antigas que pareciam existir entre mundos. As ruas estreitas de paralelepípedo ainda molhadas pela garoa que caíra ao entardecer refletiam o brilho difuso da lua minguante. As casas de madeira e pedra, com suas sacadas cobertas por velas e lamparinas pendendo das paredes, pareciam observar o céu com o mesmo temor silencioso que seus habitantes.

 

Às 2h55 da madrugada, um zumbido sutil começou a vibrar no ar. Não era som, mas vibração, algo entre o sensorial e o espiritual. A colina de Aurora, ao norte da vila, tornou-se um farol invisível de energia. No céu, três traços de luz, finos e quase imperceptíveis, pareciam se aproximar uns dos outros, desenhando ângulos que escapavam da lógica astronômica comum. Eram as três linhas astronômicas da convergência Tríade Celeste. As 3h33, se tocassem o mesmo ponto, criariam o limiar para o domínio sobre vida e morte, uma brecha que só se abrira duas vezes nos últimos mil anos.

 

De dentro de suas casas, moradores de Ellenshade olhavam o céu pela vidraça, sentindo o mesmo frio cortante que parecia surgir das pedras da colina. Animais latiam sem razão. Gatos corriam e sumiam sob telhados. Uma criança acordou de um pesadelo gritando que “a luz tinha olhos”, fazendo sua mãe chorar de medo sem saber por quê.

 

Nas cidades vizinhas, Alverton ao leste e Hargrove ao oeste, os noticiários locais começaram a interromper suas transmissões para noticiar um estranho fenômeno celeste. Um clarão azul-violáceo havia surgido na direção norte, visível até os limites da fronteira do condado. As pessoas, ainda assombradas pela recente pandemia de COVID-19, começaram a criar teorias. Muitos acreditavam ser um novo vírus, outros falavam de armas experimentais, e alguns, os mais céticos, murmuravam sobre mensagens divinas. Mas ninguém, em canto algum, sabia da verdade.

 

A convergência era real. E estava prestes a se completar.

 

Lázaro ficou de pé diante do túmulo de Aurora, imóvel. Sabia que Capricórnio acreditava que ele estava só. Que os onze membros da Ordem da Coruja seriam facilmente eliminados por seus homens-morcegos. Que Escorpião não resistiria.

 

Mas estava enganado.

 

Virgem posicionou-se à esquerda de Lázaro. Libra, à direita. Os três formavam o vértice da resistência. Virgem e Libra permaneceram invisíveis, Virgem unido se ao vento não seria vista nem sentida, Libra, a balança justa ou não, tinha a capacidade de esconder sua áurea dos demais, entrou na floresta.

— Só entrem na luta quando eu der o sinal, disse Lázaro com a voz firme.

 

E então, o céu explodiu em silêncio. As três linhas se tocaram. A convergência havia começado.

 

Uma espiral de luz desceu do céu, como um funil invertido, posicionando-se diretamente acima da colina. O túmulo de Aurora começou a brilhar com intensidade púrpura, e o ar ficou pesado, denso, como se todos respirassem dentro de um templo afundado no oceano.

 

Foi nesse momento que se ouviu o primeiro passo vindo do lado sul da colina.

 

Capricórnio havia chegado. E com ele, os Sacerdotes Signos.

 

O fim, ou o novo começo, estava a minutos de ser decidido.

Continua...

 

Corvo do Silêncio
Enviado por Corvo do Silêncio em 12/07/2025
Alterado em 24/08/2025
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