Capítulo 22
A Colina da Última Profecia
Quando os portadores dos signos caminham rumo ao eclipse entre vida e morte, e a essência de Leão renasce sob as asas da Coruja
O silêncio da sala foi rompido por um calafrio que percorreu a espinha de Lázaro como uma rajada ancestral. No instante em que todos os membros da Ordem da Coruja marchavam para fora do casarão, ele parou abruptamente. Um aroma de lavanda queimando invadiu suas narinas, o mesmo cheiro que sentira séculos atrás quando a Sacerdotisa de Leão se despediu deste plano. Seus olhos se estreitaram, e por um breve segundo ele se viu segurando Leão nos braços, seu corpo já sem vida, mas sua alma vibrando em energia pura enquanto ascendia ao cosmo.
A sala escureceu por completo. Em seguida, um brilho dourado e pulsante tomou conta do ambiente. Era uma luz viva, quente, que parecia flutuar e se expandir como uma dança de chamas. Lázaro olhou para trás, e seus olhos encontraram Andressa. Ela estava imóvel, mas algo nela vibrava em outra frequência. Das costas de Andressa, com o som sutil de tecidos místicos se rasgando no ar, abriram-se asas imponentes feitas de luz e penas de sombra, semelhantes às de uma coruja, mas com feixes dourados desenhando a constelação de Leão no ar.
O vestido que ela usava parecia respirar. As penas em seu tecido ondulavam como se possuíssem vida, cada fibra respondia ao brilho em sua aura. A máscara de coruja fundida à sua face movia-se como se fosse a cabeça real de uma ave vigilante, os olhos intensos, flamejantes, refletiam todas as vidas passadas da linhagem que carregava. A sala silenciou, tomada pela grandeza daquele momento. Até mesmo os mais céticos ajoelharam-se. Lázaro se curvou, não como mestre, mas como discípulo diante de sua nova líder.
Todos os membros repetiram o gesto tradicional da Ordem: o braço esquerdo sobre o peito, a mão direita estendida para o alto como se oferecessem sua energia à figura da Guardiã. Era o ritual de reverência máximo da Ordem da Coruja.
Enquanto isso, em outro ponto de Ellenshade, encoberta pela neblina densa, a casa da Ordem Nocturnis permanecia imóvel. Mas algo na efígie do morcego no portão mudou. Seus olhos, antes opacos, brilhavam em vermelho intenso, como se anunciassem que algo estava prestes a se desencadear. Uma onda de energia percorreu os degraus da casa e chegou até o salão onde Capricórnio se encontrava.
Ele exibia a relíquia com orgulho. Seus dedos estavam manchados de sangue seco por causa de um corte profundo no braço, resultado da última armadilha deixada por Escorpião. Ainda assim, ele sorria, triunfante.
Capricórnio olhou diretamente para os Gêmeos. Eram dois corpos distintos: a mulher, de postura firme, olhar penetrante e impulsiva; o homem, descontraído, sorridente, mas de percepção aguçada. Juntos, formavam um equilíbrio tenso, como dois polos da mesma energia.
— Vocês tinham razão. Escorpião dificultou cada passo. Disse Capricórnio, mostrando a cicatriz. — Mas, eu triunfei.
— Eu avisei. Disse a mulher de Gêmeos, cruzando os braços.
— Mas não dava pra ter certeza..., completou o irmão, com um sorriso desconfiado.
Capricórnio ignorou o tom provocador e abriu os braços.
— Temos pouco tempo. Se preparem. Todos sabem sua função.
Áries se adiantou, questionando:
— Tem certeza que Escorpião está sozinho?
— Ele tem a verdadeira e última descendente de Leão. Falou Áries, contrariando o plano anterior. — E não era a mulher que você ordenou que Sagitário eliminasse.
Capricórnio berrou:
— Não interessa quem ela seja! Ela ainda não possui poder suficiente para nos deter. E Escorpião está sozinho.
Ele deu um golpe seco sobre a mesa. As velas tremularam e caíram no chão. O silêncio tomou conta.
Gêmeos tentou falar algo, mas Capricórnio o cortou com frieza:
— Guarde seus presságios para si mesmo, Gêmeos.
Ele se virou para os demais:
— Touro, Câncer e Áries, mantenham Escorpião ocupado. Ele é rápido, astuto e pressente perigo antes de qualquer um. Ataquem juntos, sem hesitar. E cuidado com o ferrão dele.
O olhar do líder da Ordem Nocturnis agora recaía sobre Sagitário:
— Você, Sagitário, ficará encarregado de eliminar os onze membros da Ordem da Coruja. Eles não têm dons, mas são treinados para desaparecer na escuridão. Suas vestes os tornam sombras vivas. Use suas flechas de luz.
Virou-se para os Gêmeos, com um tom mais sombrio:
— Vocês só têm uma missão: encontrar a Guardiã da Coruja. Ela é a única com a essência de Leão capaz de me impedir. Pode não saber disso ainda, mas é a chave.
Fez uma pausa, então, perguntou:
— Vocês dão conta?
A mulher respondeu com um olhar de aço:
— Eu sou a lâmina.
O homem completou:
— E eu, a sombra da lâmina.
Câncer perguntou:
— Onde será a Convergência?
Capricórnio então retirou de um compartimento oculto no manto o pergaminho que viera com a relíquia. Suas mãos cuidadosamente o desenrolaram sobre a mesa de pedra. Traços antigos, linhas que brilhavam sob a luz das velas, revelaram a verdade.
— A colina de Ellenshade. Disse com firmeza. — Onde Escorpião enterrou Aurora. Lá, as forças do plano astral convergem a cada 333 anos, exatamente às 3:33 da madrugada do dia 3 de agosto.
Todos os membros da Ordem Nocturnis começaram a se despir para vestir suas vestes cerimoniais. As roupas tinham o mesmo padrão: longos mantos de seda negra com runas lunares em prata. A mulher de Gêmeos hesitou.
— Não me despirei diante de todos. Disse com frieza.
Capricórnio cerrou os punhos, pronto para explodir. Mas o homem de Gêmeos interveio:
— Se nos víssemos nus, perderíamos o equilíbrio do nosso dom astral.
Capricórnio, irritado, bateu o punho contra a parede.
— Que seja! Berrou. — Mas não atrasem!
Os olhos da efígie do morcego no portão da casa brilharam mais uma vez. A noite estava viva.
A Convergência se aproximava.
Continua...