Corvo do Silêncio
"Onde o mundo grita, o Corvo do Silêncio escreve, e no som das palavras, a alma desperta."
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Textos

Capitulo 21.1

A verdade virá

O Destino e a Guardiã

 

 

 

Do alto das montanhas, sob um céu que agora se tingia de um violeta denso, Capricórnio deu o primeiro passo rumo ao fim.

 

Um membro da Sociedade da Coruja, infiltrado discretamente entre os funcionários do aeroporto de Lyon-Saint-Exupéry, enviou a mensagem curta e precisa para Lázaro: “Ele pousou.”

 

Lázaro ergueu os olhos por cima da vela acesa sobre o altar da sala secreta e fechou os punhos. Capricórnio havia retornado. E com ele, a relíquia. O tempo se esgotava.

 

Poucos minutos depois, todos os onze membros ativos da Sociedade foram convocados, inclusive Andressa. O aviso veio em forma de mensagem criptografada em suas telas de celular:

 

“A hora chegou. Todos devem estar prontos. Todos devem vir agora.”

 

A sala da reunião principal do casarão fora iluminada apenas pelas chamas de candelabros suspensos em correntes negras. O clima era de urgência. Os olhos atentos, respirações controladas. O ar parecia pesar, como se a casa inteira soubesse que aquele era o último movimento de uma longa dança que durava séculos.

 

Lázaro entrou por uma porta lateral. O silêncio que o acompanhava não era apenas respeito, mas reverência. Parou diante do círculo e disse:

 

— Hoje é 3 de agosto de 2019.

 

Andressa estremeceu. Um arrepio subiu-lhe pela espinha como uma serpente desperta. Seus olhos se arregalaram e ela levou a mão instintivamente ao peito, onde a marca da coruja parecia pulsar.

 

— É meu aniversário..., murmurou em voz baixa, quase para si.

 

Mas era como se o próprio universo tivesse aguardado por esse momento desde seu nascimento. Nada ali era coincidência. Nada jamais havia sido.

 

Lázaro prosseguiu:

 

— Às 3h33 da madrugada, a Convergência da Tríade Celeste se inicia. É o momento exato em que três linhas astrais, Vida, Morte e Destino, se cruzam no céu. Durante 33 minutos, o véu entre os planos se torna permeável. E quem possuir a relíquia poderá canalizar a energia da essência aprisionada para decidir o que vive... e o que morre.

 

Ele caminhava pelo centro da sala lentamente, cada palavra reverberando no peito de todos.

 

— Se Capricórnio tiver êxito, tomará para si o poder de interromper ou prolongar qualquer ciclo. Tornar-se-á senhor das eras. O equilíbrio será destruído. Não restará justiça ou compaixão, apenas sua vontade distorcida. E só há um modo de impedi-lo: protegendo a Guardiã.

 

Todos os olhos se voltaram para Andressa. Seu coração batia como tambores de guerra. Sentia cada palavra atravessá-la como lâminas quentes. Ainda que a força lhe brotasse do ventre, a ansiedade lhe tremia as pernas.

 

— A missão de todos, continuou Lázaro, fixando o olhar em cada membro, é garantir que Andressa esteja segura. Ela carrega em si a única centelha capaz de selar a relíquia novamente. E mais do que isso... ela será a próxima líder da Ordem da Coruja.

 

A boca de Andressa secou. Ela não soube se foi pelo impacto ou pela repentina compreensão de que tudo o que vivia, todos os sinais, todas as dores, todos os encontros, apontavam para aquilo. Sua garganta apertou. Mas em seu olhar não havia mais hesitação. Havia certeza. Aurora estava certa.

Lázaro então ergueu as mãos:

 

— Preparem-se. Vistam suas vestes.

 

As luzes tremeluziram. Um mecanismo oculto revelou compartimentos nas paredes, onde estavam dispostas doze vestes cerimoniais, onze com o símbolo da coruja bordado em fios de prata e a constelação de Leão nas costas em tons dourados, cujas linhas se abriam como asas imensas. A décima segunda era o vestido de Andressa, o mesmo da junção e sem a constelação, mas com o esplendor da Coruja Noturna moldada em sombras e mistério.

 

Um a um, os membros começaram a se despir. O silêncio se manteve, mas era preenchido pela solenidade do momento. Lázaro retirou o sobretudo negro, revelando o torso marcado por runas tatuadas ao longo dos ombros e braços. O símbolo escorpiano pulsava sobre seu braço como um selo vivo. Vestiu sua túnica com lentidão cerimonial, apertando os cintos, ajustando os braceletes, deixando o capuz repousar sobre os cabelos longos e negros.

 

Andressa caminhou até seu vestido com passos lentos. Retirou seu vestido que vestia com uma serenidade surpreendente, como se aquele gesto a conectasse a algo que sempre esteve nela. O novo vestido se moldou ao seu corpo como uma extensão de sua pele, ressaltando o decote em V que revelava a pequena marca da coruja no peito esquerdo. A máscara, com detalhes em penas reais, encaixou-se em seu rosto como se tivesse sido forjada para ela.

 

Lázaro olhou para todos, e seus olhos detiveram-se por mais tempo em Andressa.

 

— Sigam-me. O tempo está se cumprindo.

 

Saíram da casa um a um, em marcha silenciosa, em direção à colina. O céu se tornava púrpura, cortado por nuvens rápidas. A colina onde Aurora havia sido enterrada expandia-se como se houvesse sido chamada pela própria natureza. Era ampla, circular, cercada por árvores que se curvavam para dentro, como guardiãs do tempo. No centro, o tumulo de Aurora coberto de musgo e símbolos em pedra começava a brilhar com a aproximação da Convergência.

 

O campo estava pronto.

 

Ali, sob o olhar ancestral das estrelas, duas forças se enfrentariam. A vida e a morte seriam jogadas sobre a mesa do destino. E a humanidade, sem saber, repousava na balança de uma noite silenciosa.

 

Continua...

 

Corvo do Silêncio
Enviado por Corvo do Silêncio em 10/07/2025
Alterado em 12/07/2025
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