Capítulo 20.2
Althéa Noctis
Entre profecias esquecidas, sombras antigas e a batalha final entre a vida e a morte, ela despertará com a marca que poderá selar o destino dos mundos.
Ele suspirou, fechando os olhos brevemente como quem sente o peso de uma vida inteira cair sobre os ombros.
— Capricórnio acredita que desta vez será fácil. Ele partirá esta noite com a essência de Aurora, pois sabe que só com ela poderá abrir o sarcófago onde escondi a réplica do Vértice de Ethers.
Ao mencionar o local, Matilde assentiu lentamente.
Lázaro ergueu o queixo.
— Agora, nossa missão é proteger Andressa. Prepará-la. Pois ela é a única que poderá ativar os símbolos ocultos. Só com a presença dela será possível impedir que Capricórnio controle o véu da morte. E, desta vez, sem a energia da Sacerdotisa de Leão, não haverá mais adiamento.
Todos estavam silenciosos. Até mesmo Jonas, sempre cético. O peso da história finalmente preenchia as lacunas que há tanto estavam abertas.
Andressa, firme na cadeira, sentiu a respiração prender-se por um momento.
— Então é por isso que estou aqui...
Lázaro assentiu, com os olhos fixos nela.
— É por isso que você sempre esteve. O tempo só esperava que você estivesse pronta.
E então, como um sussurro ancestral varrendo a sala, uma nova chama acendeu na grande vela central da mesa, mesmo sem que ninguém a tocasse. Era o sinal de que a antiga profecia, enfim, tinha encontrado seu momento.
A sala de iniciação era um antigo salão abobadado sob o casarão, acessível apenas por uma escada em espiral esculpida em pedra vulcânica. No teto, o símbolo da constelação de Leão se entrelaçava com o de uma coruja estilizada, esculpidos em ouro escuro, como se o próprio cosmos tivesse deixado ali sua marca.
Andressa, em seu novo vestido místico da Ordem, colocara um manto de penas negras e prateadas, com textura que lembrava o bater suave de asas noturnas, caminhou até o centro do círculo ritualístico desenhado no chão com pó de pedra lunar e sangue seco de mirra. A máscara, em forma de cabeça de coruja com detalhes em bronze e âmbar, descansava ainda em suas mãos, aguardando o momento final da transformação.
Ao redor, os seis membros visíveis da Ordem permaneciam em silêncio. Cada um com vestes que lembravam discretamente os olhos e penas de corujas distintas, mas nenhuma tão singular quanto a de Andressa. Lázaro se aproximou lentamente, agora trajando um manto negro com escamas finas que reluziam como quitina sob a luz das velas. Seu peitoral trazia o emblema antigo de Escorpião, mas em sua mão ele carregava um cálice entalhado em obsidiana e ouro branco.
— Esta é a essência de quem foi, é e será, disse ele, erguendo o cálice. — O néctar extraído da flor de lavanda e da lágrima de uma estrela que caiu sobre a tumba de Leão.
Ele mergulhou o polegar no líquido escuro e traçou um símbolo sobre a testa de Andressa: um olho entreaberto, com asas curvadas.
— A partir deste momento, você deixa de ser o que foi. Sua voz soou profunda. — E renasce como Althéa Noctis, a herdeira da Sacerdotisa de Leão, e nova Guardiã da Ordem da Coruja.
No instante seguinte, Matilde jogou um punhado de pétalas de lavanda seca ao alto. Elas pairaram brevemente, como suspensas por uma força invisível, antes de incandescerem no ar, iluminando o círculo com uma luz azulada e sutil.
Andressa então ergueu a máscara e a colocou sobre o rosto. Ao fazê-lo, sentiu um calor subir pela espinha, como se a própria história a atravessasse. A marca da coruja sobre seu peito brilhou sob o decote visível a todos. O símbolo ardeu, não de dor, mas de conexão.
O chão sob seus pés tremeu. O teto, mesmo de pedra, pareceu pulsar. E a chama da vela central se dividiu em três: uma azul, uma dourada e uma violeta. Nesse instante entra na sala as três borboletas que estive com Andressa e Lázaro quando foram visitar o tumulo de Aurora na colina.
Lázaro então ajoelhou-se diante dela, junto aos demais.
— Althéa Noctis... a Noite te reconhece. A Coruja te aceita. E Leão repousa em ti.
E então, pela primeira vez desde a morte da antiga Sacerdotisa, a Ordem da Coruja estava novamente completa.
No centro do círculo ancestral, com a chama tripla tremeluzindo ao redor, Althéa Noctis ergueu as mãos e recitou com firmeza, como se as palavras já estivessem tatuadas em sua alma:
— Diante das estrelas que me viram nascer,
perante os nomes esquecidos no tempo,
e sob a proteção da Coruja que vigia as fronteiras da noite,
eu juro.
Juro guardar o saber oculto
e jamais usá-lo para o orgulho ou para a destruição,
mas sim para o equilíbrio entre os mundos.
Juro honrar os passos da Sacerdotisa de Leão,
cuja força queimou entre os signos traidores,
e cuja essência agora pulsa em meu sangue.
Juro não temer as sombras,
pois delas eu vim, e nelas minha visão é clara.
Sou filha da noite e da verdade.
Sou guardiã dos segredos e voz dos esquecidos.
Se eu trair este juramento,
que minha marca se apague e meu nome seja silenciado.
Mas se eu for fiel,
que o céu me guie,
que a terra me sustente,
e que a eternidade me reconheça como filha da Ordem da Coruja.
Althéa então se ajoelhou, baixando a cabeça.
As velas tremularam em resposta.
Lázaro, o Escorpião, aproximou-se, colocando a mão sobre o ombro dela.
— O juramento foi selado. Sua voz soou pelo salão. — A profecia vive em ti, Althéa Noctis.
Ele se ergueu, olhando para todos ao redor, agora em pé e atentos.
— No dia 03 de agosto deste ano, quando a convergência astral tocar a marca 333, todos devem estar juntos.
Capricórnio atacará a qualquer momento.
E o silêncio que se seguiu foi mais pesado que a própria noite.
Continua...