Quando eu vejo pela janela o campo nas primeiras horas do amanhecer, algo dentro de mim silencia e floresce ao mesmo tempo. A luz ainda tímida do sol se estende sobre o horizonte como uma prece que não precisa ser dita em voz alta, ela apenas acontece, como o amor genuíno, como os recomeços. A neblina repousa delicadamente sobre o capim, envolvendo cada haste, cada flor, como se o mundo estivesse coberto por um véu sagrado. E é nessa paisagem ainda adormecida que meu coração desperta para algo maior: o reconhecimento do quanto caminhei, do quanto cresci, e de quem esteve ao meu lado quando a estrada parecia escura demais para continuar.
Cada gota de orvalho que brilha nas folhas parece carregar a memória de lágrimas passadas, algumas de dor, outras de alívio, muitas de emoção. Mas o campo ali diante de mim não guarda apenas as marcas da noite; ele se prepara, silenciosamente, para florescer outra vez. E é assim que me vejo agora: uma terra cultivada por esforços, perdas, aprendizados e esperanças. Uma terra viva, fértil, em constante renovação.
Neste instante, quero reconhecer a mim mesmo, a você que lê, por tudo o que foi superado. Pelos dias em que se levantou mesmo sem forças, pela coragem de continuar apesar das dúvidas, pela ousadia de ser gentil mesmo quando o mundo parecia duro demais. Há uma beleza imensa em resistir sem perder a ternura, em não endurecer diante da dor.
Quero também celebrar as amizades verdadeiras, aquelas que surgiram quando a vida não tinha poesia, mas ainda assim se tornaram verso. Foram essas pessoas que, nos dias mais frios da alma, nos ofereceram o calor da presença, do olhar compreensivo, do abraço sem perguntas. Amizades que não se medem em tempo, mas em profundidade. E eu reconheço cada uma delas, com gratidão.
À minha família, ou à sua, deixo aqui um agradecimento que não cabe em palavras, mas que precisa ser dito. Mesmo entre os desencontros, os silêncios e os caminhos diferentes, há sempre um espaço de acolhimento onde a essência do amor se mantém viva. A família, por vezes, não entende de imediato, mas com o tempo aprende a enxergar além do que esperava. E nós, também, aprendemos a compreender os silêncios deles. Crescemos juntos, mesmo que nem sempre lado a lado.
A janela que me revela o campo é a mesma que revela a mim mesmo. E ao contemplar esse cenário calmo, envolto pela neblina e banhado pela luz nascente, eu entendo: estou em constante evolução. Em cada erro, uma lição. Em cada perda, uma abertura para o novo. Em cada despedida, a chance de mim encontrar mais inteiro. Evoluir não é sobre mudar de forma brusca, mas sobre permitir que a própria luz nos molde aos poucos, como o sol molda o dia.
Que essa mensagem seja um lembrete: você é parte desse amanhecer. Você é feito da mesma essência que cobre o campo com beleza e mistério. E mesmo que ainda existam neblinas no seu caminho, elas vão se dissipar com o tempo. Porque dentro de você há uma chama que não se apaga, há histórias, afetos, raízes e asas.
Permita-se reconhecer as suas conquistas, por menores que pareçam. Honre os passos dados, as sementes plantadas, os frutos colhidos, mesmo os amargos, pois foram eles que fortaleceram o seu paladar para a vida. E acima de tudo, siga. Siga com fé, com verdade, com ternura. O mundo precisa do seu jeito único de florescer.
O campo sempre renasce. E você também.
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