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Textos

Imagem: Meta

 

A Criança que Viu o Amanhã

 

Ela nasceu com olhos virados ao avesso,

via o futuro nas dobras do lençol,

lia segredos nas sombras dos postes

e conversava com o tempo que ainda não chegou.

 

Tinha nos dedos galhos de relógios

e no peito um pássaro que dormia só à noite.

Dizia que as árvores falavam em mapas,

e que as nuvens carregavam cartas não enviadas.

 

Brincava com o eco de passos que ainda não haviam pisado,

pedia conselhos ao silêncio que vinha do porvir

e ria de gente que ainda não nascera.

“Eles vêm,” dizia, “mas não sabem onde guardar o medo.”

 

Certa manhã, desenhou um mundo invertido:

as casas andavam e os homens criavam raízes.

Chorou diante de um espelho que não a reconheceu

e cochichou ao vento: “a memória será a primeira a sumir.”

 

Ela sabia do que ninguém queria saber:

que o amanhã não é lugar, é espelho quebrado.

E que só os puros podem olhar sem enlouquecer

o tempo que ainda está se escrevendo em silêncio.

 

Desde então, dorme entre véus e visões,

e às vezes sorri para o nada com doçura.

Porque há quem veja monstros no escuro, 

ela via verdades demais na luz do futuro.

 

"Ela não brincava com brinquedos, brincava com o tempo, moldando o amanhã com os dedos sujos de imaginação."

A Sales
Enviado por A Sales em 23/06/2025
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