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-----> O Círculo das Bruxas <-----

 

Capítulo 1

O Chamado da Lua

 

A lua cheia pairava alta sobre o vilarejo de Ravenshire, lançando um brilho pálido sobre os telhados de palha e as vielas lamacentas. O vento frio do outono soprava pelas ruas desertas, carregando o cheiro de madeira queimada e a umidade da floresta ao redor. As casas, pequenas e rústicas, estavam fechadas com trancas pesadas; era uma época de medo e suspeitas. Qualquer mulher que ousasse desafiar os padrões da igreja poderia ser arrastada à fogueira sob acusações de feitiçaria.

 

Helena sabia disso melhor do que qualquer um. Órfã desde a infância, crescera sob os olhos vigilantes da governanta do convento local, uma mulher severa que a tratava como um fardo. Os cabelos castanho-avermelhados de Helena, sempre trançados de forma desleixada, combinavam com seus olhos verde-escuros, cheios de perguntas que nunca ousava fazer. Seu vestido simples, de tecido gasto e sem adornos, mal escondia a pele pálida, castigada pelo trabalho excessivo nos campos e na cozinha do convento.

 

Naquela noite, algo dentro dela pulsava diferente. Enquanto tentava pregar os olhos no catre estreito de madeira, um sussurro cortou o silêncio do quarto frio. Não era um som qualquer; parecia um chamado, uma voz distante que apenas ela podia ouvir. O coração acelerou.

 

Virou-se na cama, cobrindo os ouvidos com as mãos, mas a voz persistia, sedutora e hipnótica. Era como se o vento falasse seu nome. Helena sentou-se, respirando pesadamente. Algo estava esperando por ela lá fora.

 

O convento estava mergulhado na escuridão. As freiras dormiam, suas respirações rítmicas preenchendo os corredores silenciosos. Helena se levantou devagar, pôs um manto surrado sobre os ombros e, com a destreza que apenas anos de disciplina e obediência forçada poderiam proporcionar, atravessou os corredores até a porta de madeira maciça.

 

O frio da noite a recebeu com um arrepio. O vilarejo dormia sob a proteção das muralhas de pedra, mas seus pés, descalços sobre a terra gelada, a levaram para longe, além dos limites seguros da vila.

 

A floresta a cercava como um monstro adormecido, seus galhos retorcidos pareciam querer alcançá-la. Helena hesitou. Ela conhecia as histórias. Os aldeões sussurravam sobre mulheres que nunca mais voltaram dali. Mas a voz... ela ainda a chamava, gentil e persistente, guiando-a para o coração escuro da mata.

 

Seus passos se tornaram mais firmes conforme avançava entre as folhas secas. A cada passo, a luz da lua se tornava mais intensa, como se o astro a estivesse guiando. Até que, finalmente, chegou a uma clareira. O ar ali era denso, carregado de eletricidade. No centro, uma árvore secular se erguia, suas raízes serpenteando o solo como víboras petrificadas.

 

Então, Helena viu. Algo brilhava sob a terra, entrelaçado nas raízes. Era um fragmento de couro desgastado, possivelmente de um livro. Ela se ajoelhou, sentindo o coração trovejar contra o peito.

 

— O que é isso? — murmurou para si mesma, a voz trêmula.

 

Com as mãos trêmulas, cavou a terra fofa até que seus dedos encontrassem o objeto enterrado. Quando o puxou, revelou-se um livro antigo, com a capa marcada por símbolos que nunca vira antes. Helena sentiu um arrepio percorrer sua espinha.

 

— Finalmente...

 

A voz não vinha mais do vento. Ela vinha de trás dela.

 

Helena virou-se com um sobressalto, o livro pressionado contra seu peito. No limite da clareira, silhuetas emergiam das sombras da floresta. Eram mulheres, envoltas em mantos negros, seus rostos ocultos sob capuzes.

 

Uma delas deu um passo à frente. A luz da lua revelou seu rosto marcado pelo tempo, olhos cinzentos e penetrantes.

 

— O tempo se cumpriu, disse a mulher, sua voz grave e cheia de significado. — Você nos encontrou, como estava destinado.

 

Helena recuou, apertando o livro com mais força. O ar estava espesso, carregado de algo que não podia compreender.

 

— Eu não... Eu não sei quem são vocês, murmurou, a voz falhando.

 

A mulher sorriu, um sorriso que não era ameaçador, mas também não era totalmente acolhedor.

 

— Mas nós sabemos quem você é, Helena.

 

O som do próprio nome vindo dos lábios daquela estranha fez seu sangue gelar. Como podiam saber? Como sabiam que ela viria?

 

A mais velha ergueu a mão, apontando para o livro que Helena segurava.

 

— Esse livro pertence a você. Ele a chamou, e você respondeu. Agora, precisa ouvir o que ele tem a dizer.

 

Helena olhou para a capa de couro escuro, os símbolos gravados pareciam pulsar, como se respirassem. Tudo dentro dela gritava para fugir, mas seus pés estavam enraizados no solo.

 

A mulher deu mais um passo.

 

— Você quer saber a verdade, não quer? Sobre quem realmente é?

 

O coração de Helena pulsava como os tambores das execuções que tantas vezes vira na praça da vila. Mas essa não era uma batida de medo. Era algo mais profundo. Algo que sempre esteve ali.

 

Respirou fundo e, mesmo sem entender o porquê, assentiu.

 

A mulher sorriu. Atrás dela, as outras encapuzadas se moveram, abrindo caminho.

 

— Venha. O círculo a aguarda.

 

Helena olhou para a floresta densa, depois para o livro e, finalmente, para as mulheres que a esperavam. Seu destino estava a um passo de distância.

 

E então, ela deu esse passo.

 

Continua no Capítulo 2...

 

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Leia este poema Plenitude do amor

 

 

A Sales
Enviado por A Sales em 06/06/2025
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