Querida leitor(a)
Sempre que alguém me pergunta por que minhas poesias são ilustradas com figuras femininas, sinto que essa é a pergunta certa, porque me dá a chance de explicar com o coração aberto. Não é escolha ao acaso, nem uma fórmula estética repetida por hábito. É homenagem. É reverência. É o gesto mais silencioso que encontrei para agradecer às mulheres por tudo o que representam no mundo e, principalmente, no meu mundo. Cada imagem que uso não é uma moldura de beleza, mas um espelho da alma que tento retratar em palavras. A mulher, em sua infinita forma de existir, inspira cada estrofe minha como o vento inspira o movimento das folhas. Ilustrar com elas é lembrar que poesia também tem rosto.
Não importa a cor da pele, o traço dos olhos, a forma do cabelo, a origem ou a fé que carregam no peito. Em minha poesia, toda mulher é luz. E não apenas pela estética, mas pela força que carrega em silêncio, pelo gesto que acolhe, pela coragem que não se anuncia — mas transforma tudo ao redor. Quando escolho um olhar feminino para acompanhar meus versos, é como se dissesse: “aqui está a alma que me inspirou, mesmo sem saber”. A cada imagem, uma lembrança de que o mundo é mais sensível, mais verdadeiro e mais bonito porque as mulheres existem. E isso, para mim, já é poesia o suficiente.
Ilustrar com mulheres é também uma forma de agradecer à vida por cada mãe, amiga, companheira, professora ou desconhecida que, com um simples gesto, já mudou meu dia. É reconhecer que em cada dor, em cada conquista, em cada silêncio ou riso, há uma história poderosa por trás. E mesmo que eu nunca consiga traduzir tudo isso em palavras, as imagens tentam continuar o que a minha escrita não alcança. Nunca foi sobre reduzir ninguém à beleza exterior. Foi, e sempre será, sobre lembrar que a beleza verdadeira está no modo de existir de cada mulher, na sua essência, na sua presença.
Entendo que vivemos tempos em que tudo é questionado, e isso é justo. Por isso, escrevo essa carta como um abraço e uma explicação: minha arte jamais teve ou tem a intenção de objetificar, padronizar ou limitar. Pelo contrário. É um elogio em forma de poema, uma galeria de sentimentos em forma de imagens. É meu jeito particular de agradecer por tudo que aprendo com as mulheres, mesmo quando elas não sabem que estão ensinando. Se alguma vez minhas ilustrações pareceram outra coisa, que esta carta seja um pedido de escuta, e de perdão, se for preciso.
Com profundo respeito e admiração, continuo pintando com palavras e completando com rostos aquilo que sinto no fundo do peito: que o mundo sem as mulheres seria um lugar sem poesia. E eu, um poeta sem voz. Que cada imagem usada nos meus poemas seja entendida como flor deixada à porta da sensibilidade feminina, não para ser colhida, mas para dizer: “obrigado por existir, por resistir e por inspirar.” E assim sigo, verso após verso, homenageando não só a beleza que se vê, mas, principalmente, a que se sente.
Com carinho e gratidão,
A. Sales
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