Quando deixei de ser poeta,
as palavras foram embora.
A caneta, antes inquieta,
descansou como quem chora
a morte de um verso sem alma.
Já não havia encantamento,
nem magia nas manhãs.
Tudo era cinza, sem alento,
e os poemas das entranhas
viraram poeira no vento.
O silêncio fez morada
no lugar onde habitava
a emoção apaixonada
que, sem aviso, calava
cada sílaba sonhada.
Meu mundo, antes em canto,
transformou-se em descompasso.
Já não sangrava o meu pranto,
e o vazio tomou espaço
onde o amor era encanto.
Deixei de ser quem sentia
as dores com tinta e flor.
Fui perdendo a poesia
e junto dela o sabor
de viver com fantasia.
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