Na penumbra do estúdio iluminado por uma luz âmbar, ela se sentava à beira do piano, como quem espera o momento exato em que a noite começa a contar segredos. Seus cabelos escorriam em ondas perfeitas sobre os ombros, e o decote revelava não apenas a curva do corpo, mas o contorno de uma mulher que sabia — e escondia — muito mais do que dizia.
Seu nome era Ayumi, mas quase ninguém o sabia. No palco e nas capas de disco, ela era chamada apenas de "A Voz de Lua". Não por cantar como um sussurro noturno, mas por carregar a mesma solidão elegante que a lua tem ao brilhar para o mundo sem jamais ser tocada.
Cada canção que entoava parecia escrita para alguém específico, mas ninguém sabia ao certo para quem. Poemas transformados em notas, amores perdidos gravados em cada melodia, e um olhar que fazia qualquer um se perder em labirintos de lembranças não vividas.
Naquela noite em especial, Ayumi não veio cantar — veio escrever. Um homem havia cruzado seu caminho naquela semana. Um poeta silencioso que, ao invés de elogiar sua beleza, perguntou-lhe qual era o som do seu silêncio. Ela não soube responder. Mas desde então, passou a tentar descobrir.
O conto de amor começou sem toque, sem promessas, sem finais. Era feito de bilhetes deixados entre partituras, olhares trocados entre cafés frios e versos rabiscados em guardanapos. E talvez, como muitas das melhores canções, nunca se completasse. Mas ali, entre notas e pausas, nascia uma poesia real demais para caber em palavras.
Ayumi então escreveu sua nova canção. E pela primeira vez, não seria cantada ao público. Ela a deixaria entreaberta sobre o piano, para que ele, caso voltasse, soubesse que ela havia, enfim, respondido:
"O som do meu silêncio... é o eco do que não vivemos ainda."