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A Máquina de Café da Esquina

 

  Na esquina da rua onde quase nada muda, entre a farmácia e o jornaleiro, há uma pequena padaria com uma máquina de café que ronrona como quem confidencia segredos. É velha, dessas que já viram muitas madrugadas e esquentaram mãos frias de operários, motoristas de ônibus e senhoras que saem cedo para caminhar. Fica ali, discreta, perto da porta de entrada, e ainda assim parece estar no centro de tudo. Ninguém vai até ela só pelo café. Vão pelo tempo que ela oferece em troca: um minuto de pausa, de silêncio, de observação.

 

  As moedas tilintam na entrada da máquina, e cada tilintar parece marcar o início de uma história. Tem o senhor que bebe o expresso forte antes de ir para o ponto de táxi, a moça que espera o ônibus das seis e meia enquanto segura um copinho de plástico como se fosse uma xícara de porcelana, e o rapaz de olhos tristes que sempre chega com pressa, mas nunca sai correndo. Todos ali, de alguma forma, compartilham aquele instante — uma pausa breve entre o que já foi e o que ainda vai ser.

 

  A máquina não julga. Serve a todos com o mesmo vapor, o mesmo chiado rouco, o mesmo aroma acolhedor. Ninguém nota, mas há um certo carinho em cada café que ela despeja. E talvez por isso, mesmo sendo tão simples, ela seja lembrada com afeto. É como se, por um instante, a correria da cidade diminuísse o passo para acompanhar o ritmo daquelas gotas escuras caindo lentamente no copo.

 

  Às vezes, alguém puxa assunto: comenta o tempo, o preço do pão, a novela de ontem. Outras vezes, ninguém diz nada. Mas há sempre uma cumplicidade no ar — um acordo silencioso de que aquele café é mais do que bebida; é ritual, é conforto, é ponte. E mesmo quem nunca se fala, ao se encontrar diante da máquina, troca um aceno breve, quase invisível, como quem reconhece um velho amigo.

 

  A vida continua do lado de fora, apressada e indiferente. Mas ali, naquela padaria da esquina, enquanto a máquina despeja mais um café, o tempo se curva. E quem para diante dela ganha não só cafeína, mas também um momento de humanidade — raro, quente e simples como um gole no meio da manhã.

 

A Sales
Enviado por A Sales em 12/04/2025
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