Lá no pé do cafezal,
Seu Zé, homem do interior,
Sonhou alto, sem igual,
Disse: “Vou ver o tal local
Que chamam de Nova York!”
Pegou o trem bem cedinho,
Com chapéu e calça larga,
Levou pão com torresminho,
Rumo ao mundo tão sozinho,
Com a fé que nunca larga.
Ao chegar naquele chão,
Tudo era luz e fumaça,
Prédio alto até o céu,
Gente apressada e sem réu,
Ninguém olha, ninguém passa!
Entrou num restaurante chique,
Achou estranho o garçom,
Disse: “Moço, eu tô com fome,
Tem cuscuz ou arroz com nome?”
E o povo riu sem tom.
Foi andar na Times Square,
Quase tropeça no chão,
“Esse povo corre muito!
Tem mais pressa que enxurrada
Descendo do meu morrão!”
No metrô se embarafustou,
Sem saber pra onde ir,
Disse: “Esse trem anda embaixo?
Num tem buzina nem guincho?
Se fosse boi, ia mugir!”
Viu artista de mentira,
De Batman a sereia,
“Tanta gente se fantasia,
Mas num vejo alma, alegria,
Igual tem lá na aldeia.”
No hotel quis fazer café,
Com coador de pano grosso,
Mas só tinha tal de cápsula,
“Uai, cadê minha chaleira?
Essa coisa aqui é esboço!”
Depois de dias na cidade,
Já sentia a nostalgia,
Disse: “Nova York é bela,
Mas é lá na minha janela
Que o sol me traz alegria.”
Voltou pro seu interior
Com história pra contar:
“Vi o mundo se espalhando,
Mas é no mato, na lida e amando,
Que a vida gosta de estar.”