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Leia esta Homenagem do Poeta Ivan Santos Professor
Hoje escrevo com o peso doce da memória e a leveza amarga da consciência.
Escrevo para quem talvez nunca precisou sussurrar seus pensamentos com medo de ser ouvido —
mas que precisa entender o que é viver quando até o silêncio é vigiado.
Houve um tempo em que pensar alto era crime,
e cantar podia custar a liberdade.
Um tempo onde artistas como Belchior esculpiam resistência nas entrelinhas,
e onde versos viravam abrigo para verdades sufocadas.
“Como Nossos Pais” não foi só uma canção.
Foi um espelho lançado diante de uma geração cansada,
que, mesmo desejando a mudança, repetia passos já marcados no concreto da repressão.
Queríamos ser novos, mas já éramos o eco do medo antigo.
E agora, o que vemos?
Vozes jovens pedindo a volta daquilo que matou juventudes.
Gritos por ordem, quando o que faltou foi justiça.
Saudades de um silêncio que custou caro demais.
Não há poesia na censura.
Não há romance na ausência de escolhas.
Não há honra em reviver o que fez o país sangrar calado.
Por isso, escrevo.
Para lembrar que liberdade não é luxo,
é cicatriz aberta que exige vigilância constante.
E que toda vez que esquecemos onde doeu,
arriscamos sangrar de novo no mesmo lugar.
Que tenhamos coragem de ser o novo,
sem repetir os erros de quem acreditou que obedecer era o mesmo que viver.
Com alma inquieta e palavra livre,
Raimundo F. Sales
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Assim como a música de Belchior, a carta também continuara tão atual como quando foi escrita no ano de 88, dois anos depois, meu avô faleceu. Nunca descobrimos a quem ele endereçava a carta. _ Eu mesmo entregarei nas mãos deles. Ele dizia.