Te amei nas entrelinhas do impossível,
com fé cega em promessas sem alicerce,
te fiz abrigo em meu peito sensível,
e tu, em silêncio, partiste — sem prece.
Os gestos teus, outrora doce engano,
tinham o gosto amargo da ilusão.
Fiz-me de sol no inverno insano,
e tu foste sombra em minha estação.
Falei de nós como quem reza alto,
crendo num deus que nunca me ouviu,
e agora, deitada neste asfalto,
recolho o que em mim restou: o vazio.
Teu riso era espada em falsa dança,
brilhava, mas cortava sem piedade.
Deixaste em mim a dor da esperança
e um eco de saudade sem verdade.
Que culpa tem o amor, se foi sincero?
Mas quem se entrega, também se despede.
Hoje só vejo espelhos no desterro
de um coração que já não mais acredita.
— E as flores que plantei? Murcharam cedo.
Foste a seca que devorou meu segredo.