No inverno, o sol desce lento,
Tingindo o céu com sua cor,
Atrás da serra é o momento,
De se despedir em tormento,
Deixando no campo calor.
Da minha rede vejo o fim,
Da tarde que se despede,
O céu dourado é um jardim,
E o silêncio canta assim,
Com a calma que me concede.
O último boi segue a estrada,
Entrando na velha porteira,
A noite chega enluarada,
Com sua face tão calada,
E a brisa que é companheira.
No lage o rio está sereno,
Refletindo o céu tão profundo,
Os primeiros astros pequenos,
De um brilho simples e terreno,
Despertam no espaço fecundo.
As montanhas guardam segredos,
Que o sol confessa ao partir,
O campo acolhe seus medos,
E os sons se tornam tão quedos,
Na paz que se pode ouvir.
O vento sopra, frio e brando,
Cortando a tarde em despedida,
O gado descansa esperando,
Enquanto a noite vai chegando,
Com sua luz, tão contida.
Do alto a estrela brilha clara,
Primeira a romper a escuridão,
A noite a veste como tiara,
E o campo, em calma tão rara,
Recebe dela a sua afeição.
No campo, o tempo é poesia,
Cada momento guarda emoção,
Seja manhã ou melancolia,
Tudo é canto, tudo é magia,
Brotando do chão como canção.
Assim termina o entardecer,
Com sua dança tão serena,
O céu promete renascer,
E com as estrelas a tecer,
Uma história simples e plena.
Da rede sigo contemplando,
A vida que corre tranquila,
O dia ao fim vai me levando,
Com sua beleza embalando,
Meu coração que assim se aquila.