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Eu e Biscoito

Histórias de Madrugadas no Campo

 

Acordei com o cheiro inconfundível de café fresco se espalhando pela casa, anunciando que o dia já havia começado. O ar carregava o aroma amadeirado da lenha queimando no fogão, aquecendo o ambiente com uma sensação acolhedora. Lá fora, o campo despertava com a mesma harmonia de sempre, mas com o encanto renovado de um novo amanhecer. O som ritmado dos grilos, o canto do galo ao longe e a brisa úmida da madrugada eram como um convite silencioso para deixar a cama. Era hora de trabalhar.

 

Meu avô já estava de pé desde as quatro da manhã. O fogo no fogão a lenha crepitava suavemente, aguardando o toque habilidoso da minha avó, que preparava a massa dos bolinhos de tapioca. Ela fazia isso todos os dias, com paciência e precisão, enquanto a luz fraca da lamparina desenhava sombras dançantes nas paredes da cozinha.

 

Com um balde na mão, eu segui pelo caminho ainda molhado pela brisa noturna. Ao meu lado, vinha Biscoito, meu fiel companheiro. Ele era um pequeno cachorro marrom de olhar atento e cauda sempre abanando. Sua mãe havia partido de forma trágica, protegendo um bezerro recém-nascido de um ataque de onça. Desde então, Biscoito parecia carregar a coragem de sua mãe, como se soubesse que seu lugar era ao meu lado.

 

Ao chegarmos ao curral, o som do latido agudo de Biscoito ecoava pelo campo. As vacas, já acostumadas àquela rotina, respondiam com um movimento sincronizado. Mesmo com o som diferente do latido de sua mãe, elas pareciam entender que era a hora do leite. Sentado no mesmo lugar onde sua mãe costumava ficar, Biscoito observava atento enquanto eu ordenhava as vacas, uma a uma. Quando tudo estava pronto, um sinal meu era o suficiente para que ele voltasse a latir, como quem dizia às vacas que era hora de ir pastar.

 

De volta à casa, o cheiro do leite fresco se misturava ao aroma dos bolinhos de tapioca, pão de milho, cuscuz e a manteiga derretendo no prato de barro. A mesa era um festival de sabores: frutas colhidas no pomar, café preto fumegante, queijo artesanal e mel tirado das colmeias próximas. A família se reunia em volta da mesa, rindo e compartilhando histórias enquanto saboreava aquele café da manhã típico do campo.

 

Antes de começar o trabalho do dia, eu me permitia um momento de contemplação. O nascer do sol era uma pintura viva no horizonte: o céu tingido de laranja, rosa e dourado, refletindo nos campos úmidos de orvalho. Os primeiros raios de luz atravessavam a névoa baixa, iluminando suavemente as folhas das árvores e as cercas de madeira desgastadas pelo tempo. Cada dia parecia trazer um espetáculo único, mas aquele amanhecer tinha algo de especial, algo que parecia pulsar com mais força dentro de mim.

 

O som de Biscoito latindo me trouxe de volta à realidade. Lá estava ele, com meu velho chapéu de palha esfiapado nos dentes, como fazia sua mãe antigamente. Fiz-lhe um carinho rápido na cabeça e, juntos, seguimos para mais um dia de trabalho no campo, lado a lado, enfrentando as pequenas aventuras da vida rural. Biscoito não era apenas um cachorro; era minha companhia, minha memória viva e a prova de que, mesmo diante da perda, a vida no campo continuava.

A Sales
Enviado por A Sales em 15/01/2025
Alterado em 15/01/2025
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