O sol já havia subido alto no céu quando Maria e seu pai terminaram de trabalhar na madeira. Pequenas lascas estavam espalhadas pela mesa, enquanto Maria segurava orgulhosa o que parecia ser o início de uma figura abstrata. Ela sorriu, mostrando o pedaço ao pai.
— Olha, papai! É um coração... Ou quase isso! — disse, apontando para as marcas irregulares que havia feito.
Ele riu, passando a mão pelos cabelos bagunçados dela.
— É o coração mais bonito que já vi, Maria. Sabe por quê?
— Por quê? — perguntou ela, inclinando a cabeça curiosa.
— Porque você fez com suas próprias mãos. Isso é o que torna qualquer coisa especial.
Maria sorriu ainda mais, sentindo o peito aquecer com as palavras do pai. Ela olhou novamente para o pequeno livro de madeira que recebera na manhã de Natal. As marcas entalhadas, ainda que rudimentares, pareciam conter uma história mágica que apenas ela podia ler.
— Papai, você acha que o Papai Noel vai lembrar de mim no próximo Natal? — perguntou, levantando os olhos com uma expressão de dúvida.
Ele suspirou, limpando as mãos cheias de poeira de madeira em um pano.
— Tenho certeza de que ele nunca vai esquecer de você, Maria. Você é especial, e ele sabe disso.
Maria segurou o livro contra o peito, como se quisesse guardá-lo no coração para sempre.
— Então, no próximo Natal, vou deixar mais do que uma meia na janela. Vou deixar um presente pra ele também!
O pai ergueu as sobrancelhas, surpreso com a ideia.
— Um presente para o Papai Noel? E o que você daria a ele?
Maria pensou por um momento, franzindo o cenho como se estivesse elaborando um plano importante.
— Talvez um coração como esse que fiz hoje. Ele deve ficar cansado viajando pelo mundo inteiro. Aposto que ninguém pensa em dar algo pra ele.
O pai não pôde conter um sorriso. A simplicidade e a generosidade de sua filha pareciam iluminar o ambiente.
— Acho que ele adoraria, Maria. Tenho certeza de que ele ficaria muito feliz.
Ela saltou da cadeira, animada, e começou a organizar os pedaços de madeira restantes na mesa.
— Então, no ano que vem, a gente vai fazer juntos! Eu e você!
Ele assentiu, com os olhos marejados, mas manteve o sorriso.
— Combinado. Vamos fazer o presente mais bonito de todos.
Naquela noite, enquanto o pai guardava os pedaços de madeira e Maria estava deitada, segurando o pequeno livro, a casa parecia diferente. Havia uma leveza no ar, como se as preocupações do mundo tivessem ficado lá fora, deixando apenas a magia do Natal.
Maria, deitada em sua cama, olhou para a janela onde a meia ainda balançava suavemente.
— Obrigada, Papai Noel. — sussurrou, antes de fechar os olhos e mergulhar em um sono tranquilo.
No quarto ao lado, o pai também se deitou. Ele olhou para o teto, perdido em pensamentos. A promessa que Maria fizera parecia pequena para o mundo, mas para ele era imensa. Ele sabia que, enquanto aquela chama de esperança permanecesse viva na filha, tudo valeria a pena.
(continua...)