A casa estava silenciosa, com apenas o som suave do vento batendo contra as tábuas do telhado. Na cadeira de madeira, o pai de Maria segurava o papel com as mãos calejadas. Ele havia desenhado linhas desajeitadas que lembravam um livro, mas os traços não eram suficientes para trazer a magia que a filha tanto esperava. Respirando fundo, ele olhou para a janela onde a meia remendada balançava levemente com o vento.
— Um livro... — murmurou, encostando as costas na cadeira, o peso do cansaço se misturando com o da tristeza. — Como vou conseguir isso?
Lá fora, o céu estava limpo e estrelado, iluminando a vila silenciosa. O pai de Maria se levantou lentamente e foi até a janela. Olhou para a meia, depois para o céu, como se esperasse um sinal. Não havia tempo ou recursos para comprar um presente, mas havia algo mais forte dentro dele: o desejo de não deixar a filha perder a fé.
Ele puxou um velho baú debaixo da cama, onde guardava pequenas relíquias e pedaços de madeira que sobravam de seu trabalho. Revirando o conteúdo, encontrou um bloco de madeira retangular, um pouco maior que a palma da mão. Era áspero e cheio de marcas, mas ele sorriu.
— Talvez isso funcione... — disse a si mesmo, apanhando uma faca de entalhe.
A luz fraca de uma lamparina iluminava o rosto do homem enquanto ele trabalhava com cuidado. A lâmina cortava o bloco de madeira em formas que começavam a lembrar um pequeno livro. Cada movimento era lento e preciso, como se ele estivesse moldando mais do que apenas madeira. Ele entalhou detalhes na "capa", pequenas marcas que pareciam letras, e, no centro, um coração rudimentar.
Horas se passaram, e a casa permaneceu em silêncio. O pai segurou o presente em suas mãos, observando o resultado final. Não era perfeito, mas tinha alma. Ele correu os dedos pelas bordas, imaginando a reação de Maria ao acordar.
— Não é um livro de verdade, mas talvez... Talvez ela entenda. — Sua voz saiu como um sussurro, carregado de esperança.
Antes de ir para a cama, ele caminhou até a janela. A meia ainda estava lá, balançando suavemente. Com cuidado, ele colocou o pequeno livro entalhado dentro dela e ajeitou para que ficasse bem visível.
No quarto, Maria dormia profundamente, um sorriso leve no rosto. Seus cabelos caíam em ondas sobre o travesseiro, e seus dedos seguravam um pedaço de tecido como se fosse um tesouro. O pai a observou por alguns instantes, com o peito cheio de emoção e ansiedade.
— Boa noite, minha pequena. Que a magia do Natal esteja com você.
Ele apagou a lamparina e se deitou, o corpo cansado finalmente cedendo ao sono.
No amanhecer...
A primeira luz do sol atravessou as frestas das janelas, iluminando o pequeno quarto. Maria abriu os olhos, piscando algumas vezes antes de lembrar do que tinha acontecido na noite anterior. Ela se sentou na cama num pulo, os pés descalços tocando o chão de madeira fria.
— Papai! Papai! — gritou, correndo até a sala.
O pai, que ainda estava se levantando, sorriu ao vê-la. Maria já estava na janela, segurando a meia com cuidado.
— Olha, papai! Ele veio! O Papai Noel veio!
Ela tirou o pequeno livro de madeira da meia, segurando-o com tanto carinho que parecia um objeto sagrado. Seus olhos brilhavam com a mesma intensidade que o sol nascente.
— Ele trouxe um livro! Eu sabia que ele não ia esquecer de mim!
O pai engoliu em seco, a garganta apertada pela emoção. Ele se ajoelhou ao lado da filha, passando a mão nos cabelos dela.
— É... Ele veio. E acho que sabia exatamente o que você queria.
Maria abraçou o pai com força, apertando o livro contra o peito.
— Obrigada, Papai Noel! Obrigada!
O pai a segurou, sentindo uma mistura de alegria e alívio. Ele não precisava dizer nada. Naquele momento, a magia do Natal estava viva nos olhos de Maria, e isso era tudo o que importava.
(continua...)