Julia
Um Novo Capítulo na Velha Biblioteca
Eles não haviam planejado o reencontro, mas, ao fim do dia, ambos se viram lá, no lugar onde, anos antes, passavam tardes estudando e conversando. A velha biblioteca do bairro, com suas paredes forradas de livros antigos e aroma de papel envelhecido, ainda mantinha o charme peculiar e o silêncio respeitoso que sempre os fascinava. O acaso os levou a este encontro inesperado, mas os dois se perguntaram, em silêncio, se realmente era apenas coincidência.
Júlia, com um livro em mãos, olhava distraída as estantes quando percebeu uma figura familiar do outro lado da sala. Armando, inclinado, analisava uma prateleira, e seu perfil ainda tinha aquela expressão pensativa, que ela reconheceria em qualquer lugar. Os cabelos dele estavam um pouco mais curtos, e havia um certo cansaço em seu rosto, mas o olhar era o mesmo.
Respirando fundo, ela caminhou até ele, hesitando por um momento antes de falar.
— Armando? — a voz dela era baixa, mas ele a ouviu imediatamente, virando-se com uma expressão surpresa que logo suavizou em um sorriso incerto.
— Júlia... — ele respondeu, como se não soubesse ao certo se ela estava realmente ali ou se era uma memória inesperada.
Ela deu um passo para mais perto, com um sorriso nervoso.
— Oi… faz tanto tempo, não é?
Armando sorriu, coçando a nuca, claramente sem jeito. — Sim, anos… eu… nem sei o que dizer.
Ela balançou a cabeça, rindo suavemente. — Acho que ninguém esperaria que a gente se reencontrasse aqui. Quantas tardes passamos neste lugar, discutindo sobre tudo e qualquer coisa?
Ele riu, relaxando um pouco. — Sim, entre livros de física e de filosofia. Sabe, eu sempre achei que... que você odiaria vir aqui depois de... bem, do que aconteceu.
Ela assentiu, os olhos baixando para o chão por um momento, antes de olhá-lo novamente. — Eu também pensei isso. Mas acho que sempre foi mais fácil lembrar das coisas boas do que das razões que nos afastaram.
Armando ficou em silêncio por um instante, observando-a atentamente. — Júlia, eu sinto muito pelo que aconteceu. Sei que isso não apaga as coisas, mas... acho que precisava dizer isso.
Ela suspirou, e o peso daquelas palavras parecia liberar algo em seu peito. — Eu também sinto muito, Armando. Na época, eu só conseguia ver o quanto sua ausência me magoou, mas hoje percebo que foi algo muito mais complexo. A vida seguiu para os dois, mas, honestamente... sinto falta da amizade que tínhamos.
Um leve silêncio pairou entre eles, cheio de lembranças e de uma calma melancolia. Então, ele sorriu, apontando para a estante ao lado.
— E se a gente fingisse que é como antes? Escolhe um livro aqui e me conta o que aprendeu. Sabe que ainda adoro suas opiniões sobre tudo.
Ela riu, pegando um livro de poesias e folheando suas páginas com um ar casual.
— Sabe, Armando, até hoje, poesia ainda me faz pensar em todas as discussões sem fim que a gente tinha... E agora, você me deve uma revanche. Que tal uma análise dramática para aquecer a velha amizade?
Ele riu, e o som parecia trazer um pouco mais de luz para aquela tarde que já escurecia. Os dois se sentaram juntos, folheando o livro e retomando o fluxo natural de conversas sobre temas profundos e banais. Ali, entre as estantes, naquela velha biblioteca, os anos de afastamento pareciam se desvanecer, dando lugar ao reencontro de duas almas que sempre souberam o valor de estarem lado a lado.
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TALVEZ, O AMOR