Recordações ao Pôr do Sol
Aos 80 anos, ela revive memórias de um grande amor sob a árvore onde tudo começou.
Hoje, volto a essa árvore, como fiz por tantos anos, à espera do pôr do sol. Sentada aqui, fecho os olhos e sinto o tempo retroceder, como se ele quisesse me devolver os dias que vivemos juntos. Você, de sorriso fácil, sempre ao meu lado, fazendo parecer que cada segundo era eterno.
Ainda vejo a primeira vez em que nos encontramos aqui. Eu era tão jovem, e você parecia carregar o mundo nos ombros. Mas, ao me ver, seus olhos sorriram antes de seus lábios, e eu soube que seria para sempre. Aquela tarde transformou o campo que vejo agora em um lugar sagrado, o início de tudo.
Com o passar dos anos, essa árvore virou testemunha das nossas alegrias e das promessas sussurradas, como se fosse nossa cúmplice silenciosa. Quantas juras trocamos sob essa sombra? Eu me lembro de cada uma delas, como se fosse ontem. Esse foi o nosso lugar de paz.
Hoje, minhas mãos trêmulas seguram o papel e a caneta que não consigo deixar para trás. Escrever para você é o que me resta, uma forma de sentir que ainda estamos conectados. Você sabe como sempre gostei de escrever, mas agora as palavras são mais lentas, como se hesitassem em me deixar reviver o que tivemos.
Às vezes, penso que o céu entende meu coração, tingindo-se em tons que você adorava. O vermelho, o laranja e o dourado refletem o amor que deixamos aqui. Cada cor me fala de um pedaço seu, de um momento que nunca esquecerei. Sinto sua presença em cada raio de luz que toca essa terra.
O silêncio ao redor é profundo, mas, dentro de mim, há vozes de memórias que não cessam. Seu riso, sua voz suave dizendo meu nome, a maneira como me abraçava quando o vento esfriava. São ecos que me aquecem, e até parecem afastar a solidão.
Sei que o tempo nos roubou muitas coisas, mas o que compartilhamos permanece intacto. Aqui, debaixo dessa árvore, o mundo continua igual, e isso me consola. Nossos anos juntos, nossa história, é o que me faz vir aqui todos os dias, onde parecemos eternos.
Enquanto escrevo, é como se falasse com você, como se as palavras fossem um caminho que nos aproxima. Talvez você, em algum lugar, as leia. E eu sinto que, enquanto estiver aqui, nunca estarei sozinha.
O sol está se pondo devagar, e essa despedida diária se repete. Meu coração aperta, mas também sorri. Porque, apesar da saudade, tive a sorte de te amar e ser amada. O que vivemos é um presente que a vida não pode tirar.
Então, mais uma vez, sob esse céu colorido, digo adeus até amanhã, meu amor. Fecho os olhos e deixo que o vento leve meu sussurro até onde você estiver. E enquanto o sol desaparece, sei que voltarei aqui, sempre, porque esse é o nosso lugar eterno.
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Leia a poesia Reencontro de Almas