O Tempo Como Caminho
A Jornada de Beatriz em Busca do Amor
Ela sempre soube que o tempo não era uma linha reta, mas um emaranhado de possibilidades, onde cada escolha moldava um novo destino. Desde pequena, Beatriz sentia uma estranha atração pelo desconhecido, uma força invisível que a puxava para fora da realidade comum. Aos vinte e oito anos, quando encontrou o antigo relógio de bolso de seu avô, sentiu que finalmente tinha encontrado a chave para o enigma que sempre a perseguira. O relógio, com seu metal gasto e ponteiros imóveis, escondia um segredo que só poderia ser revelado por aqueles que buscavam algo além do ordinário.
Na primeira vez que girou a coroa do relógio, o mundo ao seu redor pareceu desvanecer. Sentiu uma leveza tomar conta de seu corpo, como se estivesse flutuando entre o presente e o passado, entre o real e o imaginário. Quando abriu os olhos, estava em um jardim antigo, repleto de flores que não reconhecia, mas que pareciam familiares, como se as tivesse visto em um sonho esquecido. As vozes ao longe e o aroma de jasmim a envolveram, e logo percebeu que havia cruzado a barreira do tempo.
Beatriz não sabia quanto tempo havia passado, mas algo dentro dela a impulsionava a continuar. Em cada época que visitava, encontrava um vestígio daquele que parecia ser o grande amor de sua vida. Às vezes, era uma pintura em uma galeria silenciosa; em outras, uma melodia tocada em um piano ao longe. O homem que ela procurava estava sempre à sua frente, uma sombra de um destino não realizado, uma promessa que nunca fora cumprida.
Cada salto no tempo a levava mais fundo em sua própria história, revelando camadas de sua alma que ela não conhecia. Beatriz encontrou-se em momentos que moldaram o mundo, em revoluções e grandes descobertas, mas sempre havia algo faltando. O amor que ela buscava parecia estar ao alcance de seus dedos, mas sempre escapava no último momento, deixando-a com a esperança e a dor de uma busca interminável.
Em uma noite de lua cheia, no ano de 1865, Beatriz encontrou uma carta escrita para ela, por um homem que afirmava ter esperado por ela em diferentes eras. A letra era firme e carinhosa, e cada palavra pulsava com a força de um amor atemporal. A carta dizia que eles estavam destinados a se encontrar, mas que o momento certo ainda não havia chegado. Ele estava esperando, em algum ponto do futuro, onde os caminhos do tempo se cruzariam e o destino finalmente cumpriria sua promessa.
A partir daquele momento, Beatriz começou a questionar o que era real e o que era fruto de sua imaginação. A busca pelo amor tornou-se mais intensa, mas também mais solitária. Em cada salto temporal, ela encontrava fragmentos de si mesma, pedaços de uma vida vivida em eras diferentes, mas o homem que a esperava continuava sendo um enigma, uma presença constante e, ao mesmo tempo, distante.
Certa vez, em uma cidade do futuro, ela viu uma pintura sua em uma galeria. O título da obra era "A Mulher que Nunca Parou de Amar". Ali, entre as paredes frias da galeria, Beatriz compreendeu que sua busca não era apenas por um homem, mas por um pedaço de si mesma que ela perdera ao longo do tempo. O amor que ela buscava era também a reconciliação com todas as versões de si mesma, espalhadas pelos séculos.
Beatriz então começou a entender que o amor que procurava não estava em um único homem, mas na jornada que fazia em busca dele. Cada salto no tempo, cada era visitada, era uma parte da construção de quem ela era, e o amor verdadeiro seria encontrado quando ela estivesse inteira, quando todas as suas partes finalmente se unissem. O relógio de bolso, que até então era sua âncora, começou a perder sua importância.
No último salto, Beatriz voltou ao presente, ao momento em que tudo começara. Estava de volta ao jardim de sua infância, onde o tempo parecia ter parado. Sentiu uma paz que não conhecia, uma aceitação de que sua busca havia terminado. O relógio de bolso, agora apenas um objeto, repousava em sua mão, e ela sabia que sua viagem tinha chegado ao fim. O amor que buscava estava dentro dela, em todas as suas vidas e em cada escolha que fizera.
Beatriz finalmente entendeu que o amor que atravessa o tempo não é aquele que se encontra, mas aquele que se constrói. Ela sorriu para o horizonte, sabendo que, onde quer que fosse, o amor sempre estaria com ela, em cada batida do relógio, em cada momento vivido. O tempo, afinal, era seu aliado, não seu inimigo. Ela havia encontrado o que procurava: não em outro, mas em si mesma.