Filmando Marte
Na vastidão do deserto vermelho, onde até a poeira parecia entediada, a equipe de filmagem da Galáxia Filmes pousou sua nave com grande alarde. Eles eram os primeiros a pisar em Marte com um propósito mais nobre que a ciência: o entretenimento! Armados com câmeras de última geração e uma paixão inexplicável por filmes de ficção científica, estavam prontos para transformar Marte no set de filmagem mais épico de todos os tempos.
O diretor, Sr. Delírio, como era carinhosamente chamado, era um homem de meia-idade com uma barba que parecia abrigar seus próprios pequenos marcianos. Ele decidiu que a primeira cena seria uma corrida de rovers, algo que ele descreveu como "Velozes e Furiosos em Marte". A equipe montou dois rovers, que mais pareciam carrinhos de controle remoto, mas com uma ligeira chance de explodirem a qualquer momento.
Enquanto preparavam a cena, o engenheiro de som, Paco, ajustava seus equipamentos tentando capturar os sons do vento marciano. Ele não sabia que Marte era um tanto silencioso, mas isso não o impedia de sussurrar ameaçadoramente ao microfone: “Vento, se não aparecer, eu vou até a Terra e te substituo com efeitos sonoros do deserto de Nevada!”
As coisas começaram a esquentar quando perceberam que o rover principal, apelidado de "Valente", simplesmente se recusava a mover. O assistente de direção, um jovem estagiário chamado Zeca, sugeriu usar uma das técnicas de Hollywood: empurrar o veículo fora da tela e fingir que ele estava correndo a toda velocidade. O Sr. Delírio, com um brilho nos olhos, concordou com entusiasmo.
No entanto, quando os rovers finalmente começaram a se mover (com um pouco de empurrão manual, é claro), um problema inusitado surgiu. A câmera estava virada para o lado errado. O cinegrafista, conhecido por seu olho artístico, estava tão fascinado pela paisagem marciana que esqueceu de filmar a ação principal. Assim, a filmagem registrou apenas uma bela rocha vermelha, que se tornou instantaneamente a estrela inesperada da cena.
Não satisfeitos com um simples filme, o Sr. Delírio decidiu incorporar um elemento de drama à produção: um resgate desesperado de astronautas encalhados. Claro, não havia astronautas reais envolvidos, então eles improvisaram com manequins vestidos com trajes espaciais. Tudo estava indo bem até que um dos manequins começou a se desmanchar com o calor marciano, resultando em uma cena que mais parecia um episódio de “Missão: Impossível – Edição de Baixo Orçamento”.
Enquanto isso, o roteirista, que vinha tendo dificuldades em adaptar suas falas ao ambiente extraterrestre, decidiu que Marte precisava de um alienígena amigável para dar um toque final à trama. Com nenhum marciano à vista, Zeca vestiu uma fantasia verde improvisada feita de pedaços de lona e começou a balbuciar frases incoerentes, enquanto o Sr. Delírio o dirigia com gritos de "Mais emoção! Mais autenticidade!"
O grande clímax do filme foi uma explosão espetacular, algo que todos esperavam que trouxesse o Oscar de Efeitos Especiais. No entanto, a única coisa que explodiu foi o micro-ondas onde Zeca estava esquentando o almoço. O estrondo resultante assustou a equipe inteira, e a gravação da explosão foi imediatamente reutilizada como o ponto alto do filme.
No final, após dias de caos criativo e muito improviso, a equipe olhou para o material bruto com um misto de orgulho e exaustão. “Filmamos Marte!”, disse o Sr. Delírio, enxugando uma lágrima de felicidade. “E, de quebra, criamos a primeira comédia de ação espacial totalmente improvisada!”
O filme, intitulado “Filmando Marte”, foi um sucesso inesperado, não pela ação ou pelos efeitos especiais, mas pela quantidade de cenas de bastidores que acabaram no corte final. A crítica? Simplesmente adorou. Eles chamaram o filme de "uma obra-prima da comédia moderna, onde até Marte dá risada!"